Uma entre muitas batalhas

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Ilustração: J. Bosco

Guerra prolongada é assim, não há o que estranhar. Muitas são as batalhas, o conjunto delas é que produzirá o resultado — vitória ou derrota.

No confronto com o governo ultradireitista de Jair Bolsonaro, as correntes democráticas têm acumulado forças?

Menos do que o necessário, porém de modo paulatinamente crescente.

Dois episódios recentes são marcantes nesse sentido.

Nas eleições municipais, o bolsonarismo “de raiz”, ou seja, grupos assumidamente de extrema-direita perderam e se tornaram mais vulneráveis.

O centro predominantemente conservador (onde há setores compromissados com o Estado de Direito) se fortaleceu ao abocanhar cerca de 80% dos votos.

A esquerda no seu conjunto não venceu, porém ostentou desempenhos indicativos de que resiste e pode crescer.

O outro episódio, na última segunda-feira — a eleição para as mesas dirigentes da Câmara dos Deputados e do Senado — produziu uma vitória do governo Bolsonaro que podemos chamar de “movediça”.

Ou, melhor dizendo, uma “vitória de Pirro”: venceu empenhando volume tal de energia e munição que se fez vulnerável face às novas pelejas que se seguem.

Tal como o rei de Epiro, que na batalha de Heracleia, ano 280 a.C., venceu os romanos, mas exauriu seu exército de tal maneira que foi dizimado na Baralha de Ásculo, em seguida.

Segundo o “Estadão”, só em emendas extras em benefício de deputados e senadores do chamado “centrão”, comprometidos com os candidatos apoiados pelo presidente, o governo empenhou pouco mais de 3 bilhões de reais. Este valor e outros tantos, incluindo espaços no Ministério e em instâncias intermediárias do governo, constituem uma pesada conta.

Além disso, sabe-se que o “centrão” não corresponde exatamente a uma força homogênea, composto que é por um volume majoritário de parlamentares pouco afeitos a compromissos partidários, sempre empenhados em resolver interesses próprios.

A oposição perdeu a batalha pelas presidências das duas Casas do Congresso, porém — como bem assinala a presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos — se fortaleceu.

Uma mescla muito heterogênea de parlamentares comprometidos com a democracia pode agora ter papel relevante na continuidade.

“Um exercício vital para o enfrentamento a este governo e suas políticas de desmonte do país”, diz a dirigente comunista.

Há muito chão por onde caminhar e muitas pelejas a travar em meio à multifacetada crise que o País atravessa.

Adiante, o fator povo nas ruas — momentaneamente represado pela pandemia — pode vir a desequilibrar o jogo, enfraquecendo Bolsonaro e sua trupe.

Veremos

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