Unidade em dois tempos

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A história desse momento difícil da vida nacional haverá de registrar, com destaque, a federação partidária constituída pelo PT, PCdoB e PV.

Convergência de propósitos em nível elevado e consonante com os cruciais desafios da sociedade brasileira.

É como uma peça de múltiplas faces a exibir o peso político estratégico que pode jogar.

Em sua carta programa, assinala que é “plenamente possível sustentar uma gestão econômica tendo o papel decisivo do Estado”.

Este é um ponto de convergência avançado, claramente contraposto às esfarrapadas concepções de Estado mínimo — desmoralizadas pela ampla intervenção estatal, sobretudo via bancos centrais, nos países capitalistas mais desenvolvidos, na tentativa deter as muitas sangrias decorrentes da crise global que emergiu desde 2007.

Na outra ponta, a República Popular da China tem no Estado o condutor de extraordinário desenvolvimento econômico com ampla e crescente satisfação das necessidades básicas de toda a população.

Em nosso país tropical, variantes do tal Estado mínimo ainda circulam, sustentados particularmente pelos arautos do rentismo. 

Entretanto, tamanha a dimensão da crise multifacetada que envolve o país, agravada a cada nova medida adotada pelo desastroso governo Bolsonaro, que há espaço sim para uma concertação social e politicamente ampla em torno de uma plataforma de reconstrução nacional, que reconheça a absoluta necessidade da intervenção progressista do Estado sobre a economia.

Segundo a carta programa da Federação PT-PCdoB-PV, ao Estado devem caber “investimentos capazes de gerar um ciclo virtuoso de crescimento econômico, a valorização do trabalho, geração de emprego decente, formal e com direitos, distribuição de renda, sobretudo pela ampliação da massa salarial e institucionalização de uma política de valorização substancial do salário mínimo, visando à recuperação do poder de compra determinado pela Constituição, a formatação e manutenção de políticas universais para a redução de desigualdades.”

Mais claro e tão abrangente não poderia ser.

Evidente que essas intenções pedem detalhamento e encontrarão, ao se instalar o desejado futuro governo Lula, empecilhos de muitas naturezas — seja pelo cipoal de legislação infraconstitucional de caráter privatista, acumulado especialmente nos governos Temer e Bolsonaro; seja pela correlação de forças no Congresso Nacional, talvez não tão adversa como a atual.

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