Vamos exorcizar “el diablo Bush”

Tony Snow, porta-voz da Casa Branca, confirmou recentemente que o presidente dos EUA, o torturador-terrorista George W. Bush, visitará o Brasil nos dias 8 e 9 de março. A visita faz parte da sua turnê pela América Latina, que inclui também o Uruguai, a Co

As incertezas do “império do mal”



 


Os EUA atravessam um período delicado. No campo interno, a economia continua empacada e inspira cuidados, com o aumento dos chamados “déficits gêmeos” – o país importa mais do que exporta (déficit comercial) e gasta mais do que arrecada (déficit fiscal) –, o declínio da poupança doméstica e a elevação da bolha especulativa. Os EUA são hoje um país totalmente parasitário, dependente da brutal espoliação do resto do mundo. Ainda no campo interno, a popularidade do presidente Bush despenca e, nas eleições do final do passado, seu partido perdeu o controle das duas casas legislativas, o que emperra seus planos.



 


Já no campo externo, a situação da superpotência é ainda mais complicada. A cada dia que passa, os EUA afundam nas guerras de agressão do Afeganistão e do Iraque. Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, estima que os EUA já gastaram US$ 2,2 trilhões no Iraque. Apesar deste “alto investimento”, já morreram mais de 3 mil soldados ianques e 700 mil iraquianos neste conflito totalmente fora de controle. Bush não sabe mais o que fazer e enfrenta dificuldades para aprovar seu plano de envio de mais 92 mil soldados nos próximos cinco anos. “Se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come. Bush nem pode retirar as tropas do Iraque, exceto admitindo a derrota, nem sabe como, porque e até quando mantê-las”, sintetiza Frei Betto. 


      



EUA apostam na divisão



 


Diante deste cenário adverso, o presidente George W. Bush passa a encarar o “quintal” latino-americano com maior preocupação. As últimas eleições na região – com a surpreendente vitória de Rafael Correa no Equador, o retorno dos sandinistas ao governo da Nicarágua e as consagradoras reeleições de Chávez e Lula – parecem ter acendido o sinal de alerta. Elas se somam às experiências distintas, mas com certo grau de autonomia nacional, de Evo Morales na Bolívia, Nestor Kirchner na Argentina, Tabaré Vázquez no Uruguai, Michele Bachelet no Chile e René Préval no Haiti – para não falar da heróica resistência do povo cubano e do seu líder revolucionário, Fidel Castro.


 



Segundo especulações mídia, preocupado com estes resultados e com o avanço do processo de integração soberana da América Latina, o presidente George Bush tenta agora colocar uma cunha entre estas nações para frear o crescimento das esquerdas e inviabilizar a unidade regional. Seu objetivo seria o de isolar as experiências mais radicalizadas, como as da Venezuela, Bolívia e Equador, e barrar as negociações para a ampliação do Mercosul. Em visita ao Brasil no início de fevereiro, três auxiliares diretos do carrasco Bush – Nicholas Burns, Thomas Shannon e o torturador Alberto Gonzalez, secretário de Justiça – espalharam intrigas neste sentido e concentraram seus ataques, nada diplomáticos, contra o presidente Hugo Chávez.


 



Mas, como já advertiu o chanceler venezuelano Nicolás Maduro, não há porque cair nesta despudorada manobra divisionista do imperialismo ianque. “O Bush vem para a América Latina para tentar nos dividir. Mas ele não vai conseguir. Ele vem perder o seu tempo. Os povos da América Latina responderão em massa e dirão o que têm de dizer para este senhor, que tantos danos causa à humanidade, à paz e à vida”.


 



Uma agenda mentirosa



 


Para encobrir este plano sinistro, Tony Snow informou que George Bush desembarcará em São Paulo e terá uma audiência com o presidente Lula para tratar de “questões ambientais e do comércio do metanol”. Puro engodo. Primeiro porque os EUA não têm qualquer moral para falar em defesa do meio ambiente. Sob o reinado de Bush, o governo ianque simplesmente se recusou a assinar o Protocolo de Kyoto, o tratado internacional firmado em 1997 nesta cidade do Japão que firma compromissos mais rígidos para a redução da emissão dos gases que provocam o efeito estufa e causam o temível aquecimento global.


 



O próprio presidente Lula, sempre tão cordado nas relações diplomáticas – até já chamou o presidente George Bush de “companheiro” em mais uma de suas derrapadas verbais –, fez questão de explicitar no seu programa semanal de rádio, Café com o presidente, que não aceitará qualquer intromissão dos EUA neste tema. “Nós fazemos nossa parte; agora, é preciso que eles façam a deles. O Brasil tem autoridade moral e política para exigir que os países ricos, em vez de ficaram produzindo protocolos que depois não assinam, cumpram com a sua obrigação de despoluir o planeta”, afirmou na semana passada.


 



Já no que se refere ao comércio do metanol e biocombustíveis, a hipocrisia é maior ainda. Não há o que discutir sobre este assunto quando se sabe que, em decorrência das enormes barreiras protecionistas do imperialismo, o galão do metanol brasileiro é exportado para os EUA por apenas 54 centavos de dólar. E o governo Bush já enfatizou que não pretende alterar esta política, segundo reportagem do jornal Valor Econômico (05/02/07). O artigo informa que um dos mecanismos protecionistas, o da tarifa que encarece a importação, foi prorrogada até 2008. Além disso, o governo ianque já anunciou que pretende ampliar a produção de metanol a partir do milho – e não da cana produzida no Brasil.


 



Um dever internacionalista



 


Desmascarados os verdadeiros objetivos da visita oficial, ela só tem um mérito: o de permitir que a povo brasileiro vá às ruas para protestar contra o terrorista George W. Bush, o responsável pelos genocídios no Iraque e Afeganistão, pelos campos de tortura de Guantánamo e Abu Ghraib, pela regressão marcatista em seu próprio país e pelos riscos ambientais de destruição do planeta. A Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), que reúne as mais representativas entidades populares do país, já está orientando todos os estados a promoverem massivas e criativas manifestações de rua. A maior delas deverá ocorrer em São Paulo, aonde o genocida desembarca, somando-se às atividades do Dia Internacional das Mulheres. 


 



A visita de George Bush à região vai dar o que falar. Segundo relatos da mídia mundial, os mexicanos pretendem realizar “os mais transcendentes protestos” desta turnê; já a central sindical do Uruguai, PIT-CNT, anunciou que mobilizará milhares de pessoas em Montevidéu; o Coletivo de Organizações Sociais da Guatemala e o Pólo Democrático da Colômbia também garantem que realizarão “calorosas recepções”. Não é para menos que a comitiva do detestado presidente dos EUA inclui um pequeno exército de 2.500 agentes, munidos de aviões Galaxy, helicópteros, um hospital ambulante e várias limusines blindadas.


 



Não dá para perder esta excelente oportunidade de excomungar “el diablo Bush”, como lhe batizaram os venezuelanos. Este é um dever militante internacionalista de todos os que lutam por um mundo melhor.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho