Vendendo a Mãe

Rio de Janeiro, 29 de Setembro de 2021.

Pai,
Comecei a escrever as Cartas do Pai inspirado nas cartas que você escrevia para a vó Maria.
As Cartas da Mãe que você escrevia, marcaram uma época e ficaram famosas no Brasil todo!
Ela representava a mãe de cada brasileiro que via o Brasil sendo afundado pelos militares.
Com tanto sucesso, logo te procuraram para campanhas publicitárias.
O seu amigo Jeferson de Andrade, me contou que participou de uma negociação.
Ele disse que você ligou pra ele, pedindo para ir em um almoço, num restaurante chique, bem caro…
Lá, os representantes de uma empresa, ofereceram uma pequena fortuna para usar as “Cartas da Mãe” em uma propaganda de dia das mães e anunciar uma marca panela de pressão.
O Jeferson disse que você falou que ia pensar, e logo depois ligou recusando a oferta.
Na semana seguinte, outra reunião com os dois, em outro restaurante chique, e desta vez solicitou que fosse em uma cantina italiana, pois queria comer uma massa.
Eles aumentaram a proposta e mais uma vez ouviram que ia pensar, mas mesmo assim recusou.
Marcaram então uma terceira reunião, também em um restaurante chique, e mais uma vez você chamou seu amigo.
Desta vez, novamente à seu pedido, em uma churrascaria.
Eles dobraram a proposta anterior!
Queriam muito!
Mas avisaram que era a última proposta.
De imediato você recusou, e eles foram embora decepcionados.
Foi quando o Jeferson te perguntou:
– Henfil, afinal qual é o valor que você queria para fazer a propaganda?
– Nenhum! Minha mãe não está a venda! – Você disse…
– Então pra que toda esta negociação?
Ele contou que você abriu um sorriso e falou:
– Queria saber quanto a minha mãe valia!
Pois é…
Tem gente que não pensa assim, e vende a própria mãe.
Faz a mãe de cobaia de remédios sem eficácia e falsifica o atestado de óbito dela pra justificar manter seu comércio aberto.
Que país é este?
Um beijo do seu filho,
Ivan