Vírus que te quero longe!

Recorro aos sites de busca na internet, sempre mais atualizados do que meus velhos livros de medicina, na estante há mais de vinte anos e apenas de vez em quando consultados (como muito prazer, diga-se) e fico sabendo que das 1.739.600 espécies de seres vivos indentificados, os vírus representam 3.600 espécies. Virgem Maria!

Pois é pertencente a uma dessas 3.600 espécies o que me abateu por cinco longos, dolorosos e entendiantes dias, com o abandono atabalhoado de uma reunião partidária e um fim de semana pelo meio. Pior: o conselho que sempre dei aos meus pacientes em situação semelhante, desta vez eu mesmo me vi quase que incapacitado a seguir – esperar pacientemente em absoluto repouso, com ingestão generosa de líquido e uma grama de vitamina C/dia. Mais: uma dorzinha de cabeça chata, suportável, porém persistente, me impedia de ler – haja paciência!

(Confesso que quando uma gripe comum me obriga a um dia e meio de descanso, mais ou menos, sem me impedir de manusear jornais, revistas e livros, até gosto. É uma boa razão deixar o campo de batalha cotidiano e alargar o tempo diário dedicado a uma boa e sempre saudável leitura).

Pois bem. Voltemos aos meus dias de descanso forçado, encerrados ontem, já que a manhã de hoje é de retorno ao trabalho, ainda que com os cuidados próprios da convalescença – onde se inclui honrar o compromisso semanal com o portal Vermelho, blogs e sites. No pior momento, quando a gente sente dores por todo o corpo, aquela moleza que nem é preguiça nem relaxamento, a cabeça pesada… e só resta esperar, surge uma incômoda sensação de inutilidade.

O mundo gira. Obama visita de surpresa o Afeganistão. Lula se reúne com o presidente Mujica, do Uruguai e lança o PAC 2 em Brasília, ao lado da ministra Dilma e sob a ira incontida da oposição demo-tucana. Marina chega a Pernambuco, em campanha, avisando que não tem programa, por enquanto, mas também não será candidata de uma nota só (tem muitas idéias para o País). No mais, é muito crime, condenação em alguns casos, impunidade em outros e, no meio de tudo isso, o ex-governador Arruda (que ameaçava dizer muitas coisas que incriminariam o DEM, seu ex-partido) mantém a boca literalmente fechada durante o depoimento que prestou na Polícia Federal. Nem água aceitou, diz um repórter, que escuto com a cabeça envolta em dois travesseiros.

De vez em quando olhos os dois celulares e fracasso na tentativa de responder a algumas das inúmeras ligações não-atendidas. A minha vontade é menor do que a força do vírus. O mesmo acontece com os e-mails, que costumo receber diariamente entre vinte e cinco a trinta. Respondo ou envio alguns de absoluta urgência e fico por aí. Meu destino é esperar, entre a cama e a rede.

Toda paciência é produto de uma razão nobre. Busco-a nos versos de Paulo Freire (Canção óbvia): “Quem espera na pura espera/vive um tempo de espera vã.” E me convenço de que valeu a pena esperar que a virose se fosse dando lugar à renovada disposição de luta.

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