Wakanda: Nada é para sempre

Wakanda para Sempre apresenta com muita sensibilidade as nuances das disputas geopolíticas internacionais

Foto: Divulgação

Me recordo de quando ocorreu a estreia de Pantera Negra no cinema há anos atrás, inclusive escrevi na época uma matéria sobre o filme que considero algo diferenciado no conteúdo, na estética, no simbolismo e na politização entre as produções da Marvel para esse formato.

Chama a atenção como a película terminou, com uma cena pós-crédito em que o personagem defendia a construção de pontes e não de muros, numa clara referência ao então presidente Donald Trump.

A nova produção Wakanda para Sempre impressiona por manter a vivacidade cultural da África em que o fictício país se situa. As cores, cultura e tudo mais saltam aos olhos do telespectador. Também consegue homenagear elegantemente o ator Chadwick Boseman que imortalizou o personagem dos quadrinhos nas telonas dos cinemas do mundo todo.

Dessa premissa é que se desenvolve a obra em si. Wakanda para Sempre apresenta com muita sensibilidade as nuances das disputas geopolíticas internacionais a partir da perda de seu líder, o que poderia configurar uma fragilidade momentânea a ser explorada pelos outros países em busca de suas riquezas, representada pelo minério fictício vibranium, mas que na vida real cabe comparação ao petróleo do Iraque, para ficar em apenas um exemplo.

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Wakanda não consegue se adequar ao formato de país esperado dos seus “parceiros” que tentam a todo custo ter acesso ao minério, como um outsider das convenções internacionais diplomáticas, como dizia o sociólogo alemão Norbert Elias. Então o filme nos apresenta uma outra nação, com cores vivas, cultura pujante, ritos próprios e situada abaixo da água, Talokan é ainda mais outsider que a própria Wakanda.

As disputas entre Talokan e Wakanda acabam ao final por celebrar uma aliança tática frente aos adversários em comuns, mas antes disso se consomem em guerra enquanto as demais nações assistem à distancia, pondo à prova a pujança bélica e tecnológica de Wakanda que é destroçada e mostrando que nada na geopolítica é para sempre.

Chama a atenção a derrota de Namor em combate para nova Pantera Negra, mas que o soberano de Talokan apresenta aos seus súditos como uma oportunidade tática, em que Wakanda dependeria da nação subterrânea para enfrentar a ameaça dos demais países que a atacarão em algum momento em busca do minério raro.

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Os EUA de Biden permeiam toda a trama, apresentados como uma nação imperialista, despudorada, que explora mares internacionais e opera em busca das riquezas e ativos que lhe ajudem a manter e consolidar a posição no tabuleiro mundial através de suas agências de espionagem.

Há anos não surgem novas nações relevantes no planeta, detentoras de riquezas minerais que inspirem intervenções militares pelas potências hegemônicas. Wakanda para Sempre cutuca essa nuance do cenário mundial, bota a nu como incomoda as grandes nações o novo, o diferente, o outsider. É um importante manifesto contra a hegemonia imperialista, a pluralidade cultural e a quebra da hegemonia, se prestarmos a devida atenção.

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