31 de março sob névoa golpista
As quarenta e oito horas que antecederam este 31 de março, data que registra o terrível golpe militar de 1964, […]
Publicado 31/03/2021 13:45
As quarenta e oito horas que antecederam este 31 de março, data que registra o terrível golpe militar de 1964, foram marcadas por um clima político tenso, prenhe de especulações e de ameaças bolsonaristas ao regime democrático.
Um pouco antes, no domingo (28), num episódio ainda a ser esclarecido por completo, o bolsonarismo, com a deputada Bia Kicis e o deputado Eduardo Bolsonaro à frente, insuflaram a insurgência de motins na polícia militar da Bahia.
A tensão política emergiu a partir da eclosão de uma crise militar no bojo da reforma ministerial empreendida por Bolsonaro.O presidente demitiu o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, o que provocou a renúncia dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
Noutro polo, o presidente Jair Bolsonaro entronizou no Ministério da Justiça e Segurança, um delegado da Polícia Federal, Anderson Torres, pessoa de relacionamento próximo do clã presidencial.
O agravamento da situação política do país, a crise militar e a reforma ministerial são derivadas, fundamentalmente, de um único fato: a pandemia, que pela conduta irresponsável do presidente da República adquiriu a dimensão de catástrofe nacional. Em decorrência, o país sofre com um processo de ruína, de crises múltiplas que resultam em tragédia social, fome inclusive, e destruição de empresas e postos de trabalho. A conduta genocida de Bolsonaro levou o país, nas últimas semanas, ao topo do número de morte entre todos os países do mundo e transformou no Brasil no epicentro mundial da Covid-19.
Essa catástrofe provoca uma tomada de posição de setores das classes dominantes, do poder econômico e financeiro, que se apartam do governo e, também, de setores do eleitorado, que até ontem o apoiavam.
Bolsonaro vinha aumentando a pressão sobre o ministro da Defesa e os comandantes das Forças Armadas no sentido de submetê-los aos seus desvarios negacionistas e autoritários referentes ao combate à pandemia e, também, ao seu objetivo maior de provocar uma ruptura no regime democrático.
O agora ex-ministro da Defesa e os ex-comandantes, corretamente, se negaram a seguir os ditames de Bolsonaro, num gesto que adquiriu grande importância política, posto que preserva as Forças Armadas como instituições de Estado e repele a sanha do presidente de colocá-las à serviço de seu projeto política ditatorial.
Exige muita atenção das forças democráticas a nomeação de um delegado da Polícia Federal à titularidade do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Sobretudo, quando sua principal credencial é a grande proximidade com a família do presidente.
Bolsonaro estabeleceu uma ligação direta com segmentos das polícias militar e civil e seu esquema no interior delas é uma ameaça recorrente de insubordinações e motins à margem do comando constitucional dos governadores. Acuado e mais isolado, porém ainda detentor de um piso de popularidade, o presidente recauchutou seu governo, colocando em postos estratégicos figuras que são leais a ele e ao seu programa.
E seu “programa”, além da conduta genocida em relação à pandemia, contém em letras garrafais, a ameaça permanente ao regime democrático. Bolsonaro, na dita reforma ministerial, ampliou o espaço do Centrão, porém muito aquém do que exige esse agrupamento político. E por mais que tente “algemar” o Centrão ao seu governo, este seguirá volátil, pragmático, pronto para saltar do navio conforme o quadro evoluir.
Mais do que nunca se impõe a união de amplas forças políticas, econômicas, sociais, culturais, governadores, partidos, setores de Poderes da República, personalidade e líderes de expressão política e social, em movimentos de frente ampla, para salvar o país, com ações concretas em defesa da vida e da democracia.