A alta dos juros e a falácia da independência do Banco Central

A taxa básica de juros no Brasil voltou a crescer depois de quase três anos em que não era aumentada. Na última quarta feira (16/04), a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu elevar em 0,5% a taxa Selic. Este aumento serve, na prática, aos interesses do setor financeiro e dos especuladores, aumentando o custo da dívida interna em cerca de cinco bilhões de Reais e provocando um freio no início do atual processo de crescimento econômico vivido pelo país.



Desde a semana passada, vários setores importantes da sociedade manifestaram preocupação diante da iminência deste aumento finalmente consumado. Economistas de várias tendências como o professor Luiz G. Belluzzo e Delfim Netto, entre outros, colocaram-se contra o pretendido aumento argumentando com a ausência de fatores objetivos que justificassem tal atitude. O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), na mesma linha, considerou qualquer aumento como precipitado e prejudicial ao crescimento econômico. Uma carta redigida e assinada por Centrais Sindicais – CUT, Força Sindical, CTB, CGTB, NCST e UGT —  exigiram do presidente Luís Inácio Lula da Silva e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles que baixasse os juros em prol do desenvolvimento nacional. E o Partido Comunista do Brasil se utilizou de seus programas de comunicação institucional na televisão para alertar os brasileiros contra a ameaça de aumentar os juros neste momento, em que o Real está sobrevalorizado, diferentemente do período anterior em que o dólar estava valorizado.



Nesta ocasião, o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, argumentou também, em artigos publicados pela imprensa, que o que está em jogo, na verdade, é a luta entre dois caminhos no plano econômico – ''o desenvolvimento robusto, com crédito acessível e distribuição de renda versus o crescimento econômico contido, sustentado por juros altos permanentes, em benefício dos rentistas e especuladores. Realidade que pressiona o governo do presidente Lula desde o seu início e que volta a se manifestar com força. Este recrudescimento se dá no debate sobre análises de indicadores e tendências no quadro econômico atual, mas não se limita a isto. Incide mesmo sobre os rumos que o país deverá seguir em futuro próximo, envolvendo e preparando as eleições de 2010, refletindo interesses contrários''.



Com a decisão do Copom, tomada na quarta-feira, o Brasil volta a liderar a lista dos países com o maior juro real. Este fato, aliado às decisões de outros Bancos Centrais de diversos países, como o Federal Reserve, dos Estados Unidos, que estão ao contrário do Brasil reduzindo suas taxas de juros, poderá provocar uma enxurrada de dólares para o Brasil, boa parte de caráter especulativo, de curto prazo. Este fenômeno desencadeia o reaparecimento de déficits em conta corrente no Brasil e o câmbio valorizado leva à diminuição dos superávits comerciais.



Como conseqüência da decisão tomada, o Banco Central revela a falsidade de sua auto-proclamada independência: na verdade, ele não é independente mas está a serviço dos interesses do sistema financeiro, que é quem dá o tom e a linha de orientação da economia nacional.