A corrupção e o autoextermínio de Bolsonaro

O episódio bizarro do dinheiro na cueca no senador Chico Rodrigues (DEM-RR), então vice-líder governista no Senado, faz o presidente Jair Bolsonaro engolir a bravata de que o seu governo teria acabado com a corrupção. O senador é um dos parlamentares que mais conseguiram liberar dinheiro de emendas em 2020. Até terça-feira (13), o governo havia empenhado R$ 15.637.645,00 em emendas, fazendo dele o oitavo senador com mais dinheiro liberado.

Na quarta-feira (14), Chico Rodrigues foi alvo de uma operação conjunta da Controladoria-Geral da União (CGU) e da Polícia Federal para apurar desvios de verbas destinadas ao combate a Covid-19. O dinheiro desviado teria vindo justamente de emendas parlamentares, de acordo com a Polícia Federal.

Esse é mais um episódio da galeria de escândalos envolvendo Bolsonaro. Ele se soma a casos como os inquéritos e processos sobre as chamadas “rachadinhas” – desvio de dinheiro público da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro –, as evidências de funcionamento do mesmo esquema no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro entre 1991 e 2018, dentre outros, envolvendo inclusive o seu clã.

É preciso lembrar, ainda, que ministros bolsonaristas devem contas à Justiça. Um deles, Onyx Lorenzoni, que assumiu a Casa Civil e agora está na pasta da Cidadania, tornou-se alvo de investigações por receber repasses de caixa 2. Paulo Guedes, o ministro da Economia, também responde, no âmbito da Operação Greenfield, sobre irregularidades em uma de suas empresas, relacionadas a fundos de pensão patrocinados por estatais.

Assim como o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, denunciado por comandar um esquema de desvio de recursos públicos por meio de candidaturas femininas de fachada nas eleições de 2018. Do mesmo modo, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi condenado por improbidade administrativa pela Justiça de São Paulo, acusado pelo Ministério Público paulista de cometer fraude na elaboração do plano de manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) da Várzea do rio Tietê.

São fatos incontestáveis de que a sentença de Bolsonaro decretando o fim da corrupção com a sua chegada ao governo é uma farsa. Como bem definiu o governador Flávio Dino (PCdoB-MA), “Bolsonaro acabar com a corrupção seria uma espécie de autoextermínio”.