A derrota de Obama num país cada vez mais reacionário

A onda de esperança provocada pela eleição do presidente Barack Obama, em 2008, que já se tinha esvaído durante a […]

A onda de esperança provocada pela eleição do presidente Barack Obama, em 2008, que já se tinha esvaído durante a primeira metade do seu mandato, acabou esboroando-se nas urnas da eleição do dia 2.

O desempenho de Barack Obama nas questões cruciais de política interna e externa resulta, agora, na acachapante derrota eleitoral de seu partido, uma conta política elevada.

A eleição de Obama surfou na enorme rejeição a George Bush e sua política extremamente conservadora e agressiva contra os povos – e mesmo contra o povo de seu país. A desastrosa administração, cuja abulia em relação aos problemas da população evidenciou-se de maneira cruel quando a cidade de Nova Orleans foi atingida pelo furação Katrina, mereceu o justo castigo, sendo fragorosamente derrotada na última eleição presidencial.

Os americanos queriam acabar com as guerras, com o desemprego e com o empobrecimento da população. Chegaram a manifestar forte inquietação quando a crise eclodiu em 2008 e a fragilidade do povo ficou exposta diante dos extorsivos privilégios do grande capital que, de Wall Street, governa o mundo capitalista.

Governa também os EUA e Obama não teve coragem política para enfrentar seu poderio. Suas ações salvaram o sistema financeiro, ao qual impôs regulamentações parciais e mudanças incapazes de colocar freio à ganância que levou à crise.

Para o povo, deu migalhas que não puderam resgatar do abismo financeiro famílias vítimas de armadilhas hipotecárias, nem restaurar a economia e recuperar o emprego.

Assim, o crescimento econômico tem sido “anêmico”, como alguns especialistas classificam os índices deste ano, e o desemprego bate recordes. O Ministério do Trabalho dos EUA informa que o número de trabalhadores que dependem do auxílio-desemprego é crescente e já beira os 460 mil.

O desastre que o país vive no ambiente interno vai de mãos dadas com outra promessa de campanha não cumprida – o fim da guerra no Iraque e no Afeganistão e a mudança na política externa guerreira dos últimos vinte anos, aprofundada durante os mandatos do presidente George Bush.

Apesar da retórica presidencial, a escalada guerreira continua e o apoio a aliados que agridem os povos, como Israel, permanece intocado, Na América Latina, o big stick continua ameaçadoramente sobre a mesa com a 4ª Frota ativada, o fortalecimento da presença militar e as mesmas ameaças a países como Cuba e Venezuela, além do apoio de oligarquias reacionárias, como ocorreu no golpe contra o presidente Manuel Zelaya, em Honduras.

Sem mudanças, sem enfrentar com decisão o poderio conservador, prospera no país, destacando-se a verborragia extremista do Tea Party e sua pregação contra os devedores (são pecadores que agora precisam purgar suas faltas), contra a intervenção do Estado para ativar a economia (socialismo!, gritam eles), contra o socorro aos pobres e a contra a tolerância em relação aos migrantes.

Obama vai enfrentar uma eleição presidencial em 2012. Até lá, terá que governar com um Senado dividido e a maioria republicana na Câmara dos Representantes e entre os governadores estaduais. Na Câmara, os republicanos terão 239 deputados, contra 185 dos democratas; no Senado, os democratas mantem uma apertada maioria de 53 contra 46; nos governos estaduais, 30 serão dirigidos por republicanos, contra 19 democratas.

É um desafio imenso para um presidente que está na metade de seu primeiro mandato e cujo desempenho limitado levantou a fúria dos extremistas da direita e o desencanto daqueles que foram o motor de sua eleição em 2008 – a juventude, a ampla parcela latina da população, os negros e os setores mais pobres da população. A taxa de abstenção de 40% na eleição da última terça-feira é o termômetro desse desencanto.

Na eleição e mesmo em alguns momentos críticos de seu governo – como na necessária reforma da saúde, onde enfrentou uma oposição frenética – Obama apelou a essa maioria de despossuídos e conseguiu mobilizá-la. Em outras decisões importantes de seu governo, não conseguiu – ou não quis – fazer isso. Não se sabe como reagirá, nos próximos dois anos em que seu governo poderá ficar paralisado e sua reeleição ameaçada.

Historicamente, a polarização republicanos versus democratas está superada e dela não resultam nem resultarão alternativas válidas para a população estadunidense. A vitória republicana tornará os Estados Unidos um país ainda mais reacionário.