A diplomacia desastrosa de Bolsonaro

Bolsonaro e ministro das Relações Exteriores - Reprodução da Internet

A crise política que resultou na queda do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo – no bojo da mudança de seis integrantes do ministério – é mais um sintoma do desastre representado pelo governo Bolsonaro. Não é possível dissociar as irresponsabilidades do ex-comandante do Itamaraty da política global bolsonarista. Ernesto Araújo apenas seguiu à risca o fanatismo da extrema direita que governa o Brasil, negando os mais elementares princípios da ciência e do bom senso para enfrentar a grave crise econômica e sanitária que castiga o país.

O seguidismo cego ao terraplanismo, que tem no ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump o seu mais destacado representante político em âmbito mundial, traduz a ideia que guia o bolsonarismo. O governo Trump chegou ao fim, mas a ideologia dessa extrema direita segue como a sua principal referência política para Bolsonaro e sua equipe.

As consequências são trágicas, como pode ser visto nos números e cenas de brasileiros lutando pela vida e contra fome. No primeiro caso, o negacionismo bolsonarista em relação à pandemia da Covid-19 deixou o país sem acesso a vacinas, sobretudo de origem chinesa. O sectarismo ideológico da extrema direita levou os brasileiros a perder oportunidades preciosas para uma rápida imunização em massa, como vem ocorrendo em outros país, com destaque para os Estados Unidos.

Essa obtusidade tem reflexos internos também na utilização do potencial tecnológico e de conhecimento científico para a produção de vacinas. Um intercâmbio sem censura ideológico com outros países poderia trazer para o país tecnologia para impulsionar a produção brasileira de imunizantes. Nos dois casos, uma política externa ativa do governo, capitaneada pelo Itamaraty, poderia ter evitado a dimensão da tragédia sanitária que assombra o país.

Outro efeito grave das ideias de Bolsonaro e Ernesto Araújo é a forma de lidar com a crise econômica. O Brasil desenvolveu uma política externa altiva e ativa, como foi chamada nos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, que possibilitou uma produtiva relação geopolítica e geoeconômica, sobretudo pelas alianças regionais e pelo protagonismo no BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Os frutos dessa política foram fundamentais para o país combater os efeitos da crise econômica global, que teve mais um pico grave em 2007-2008.

Bolsonaro e Ernesto Araújo romperam com essa política para seguir, cegamente, os brados da Casa Branca. Como parte desse obscurantismo, de inegável sentido criminoso contra a humanidade, o Itamaraty, seguindo os ditames de Bolsonaro, passou a agir para sabotar as relações econômicas sobretudo com a China. O caso mais emblemático é o leilão da tecnologia 5G. A submissão de Bolsonaro ao trumpismo levou à tentativa de sabotagem a Huawei, a maior companhia do mundo de equipamentos para redes e comunicações, assunto que voltou à baila com as grosserias de Ernesto Araújo contra a senadora Kátia Abreu, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado.

O conjunto da obra envolve também o ministro da Economia, Paulo Guedes, sabidamente um sabotador de investimentos fora dos cânones fiscais do circuito financeiro internacional. Com essa premissa, o Brasil perde importantes oportunidades para se integrar ao polo mais dinâmico da economia mundial atualmente. A soma desses fanatismos neoliberal e terraplanista resulta nessa tragédia pela qual passa o país, que precisa urgentemente ser contida.