A espada de Bolívar corta fundo no Equador
''Sinto a espada de Bolívar caminhar pela América Latina. Avancemos rumo à pátria de todos, até a vitória, sempre'', proclamou […]
Publicado 01/10/2007 15:17
''Sinto a espada de Bolívar caminhar pela América Latina. Avancemos rumo à pátria de todos, até a vitória, sempre'', proclamou o jovem presidente do Equador, Rafael Correa, enquanto começava a apuração da eleição da Assembléia Constituinte no país andino.
O discurso integracionista fez menções aos presidentes da Argentina, Brasil, Venezuela, Bolívia e Uruguai. Além de Simón Bolívar, foram citados Antonio José de Sucre e os heróis equatorianos Manuelita Sáenz e Eloy Alfaro.
“O povo venceu de maneira contundente na mãe de todas as batalhas”, avaliou o presidente. De fato a eleição da Constituinte, principal bandeira de Correa na eleição presidencial há 11 meses, tem importância decisiva para o país andino de 14 milhões de habitantes, exportador de petróleo, bananas e flores, com uma sociedade dilacerada entre ricos e pobres. É parte também da maré antineoliberal que faz da América Latina um continente de esperanças para as forças avançadas do mundo.
A vitória não poderia ser mais contundente. Com 82% dos votos apurados, a Aliança País de Correa deve ficar com 71 dos 130 deputados constituintes. Em um distante segundo lugar, com 13 cadeiras, fica o PSP do ex-presidente Lucio Gutiérrez. E em terceiro, com seis, o Prian direitista do multimilionário bananeiro Álvaro Nóboa. Afora País, haverá outras forças de esquerda na Assembléia, como o MPD.
Também contundente é o discurso do presidente. Correa declarou-se pronto ao “diálogo” com todos”. Mas advertiu que no processo de diálogo há “princípios irrenunciáveis”, como uma Constituição que traga a “equidade” e termine “os privilégios”.
Igualmente nítida foi a posição sobre o velho Congresso legislativo, antro da direita que sabota as transformações no Equador. “O Congresso terá que se dissolver, entrar em recesso, como queiram. Mas durante o funcionamento da Assembléia o Congresso não funcionará”, disse Correa, reafirmando sua posição na polêmica que domina a vida política equatoriana.
Como em quase toda a América Latina, também no Equador há uma estridente mídia neoliberalizante que faz o jogo da oligarquia e dos Estados Unidos. No entanto, foi mais uma vez desmentida e desmoralizada nas urnas. “A velha ordem está sendo derrubada. São a minoria absoluta, estão perdendo o poder e por isso fazem tanto barulho”, ironizou Correa.
O triunfo arrasador na Constituinte equatoriana confirma e impulsiona a maré transformadora latino-americana e em especial sul-americana. Sua vitória, de sentido histórico na dimensão mais profunda do termo, não está escrita nas estrelas mas encontra-se ao alcance da coragem, da grandeza e do talento das forças que nela se empenham. Não serão as grosseiras futricas midiáticas e nem a campanha de demonização de Hugo Chávez que conseguirão impedi-la.
Outra batalha de certa monta no processo integracionista será travada proximamente em Brasília. Ali o Congresso Nacional brasileiro votará, com atraso (os legislativos argentino e uruguaio já o fizeram) o pedido de ingresso da Venezuela como membro pleno do Mercosul.
A oposição direitista já está em campanha para impedir a adesão. Cabe às forças e movimentos populares pressionar os congressistas para garantir o acatamento do pedido. Este traz para o Bloco do Sul o terceiro maior PIB do continente; é bom para o Brasil e é bom para a causa integracionista da espada de Bolívar. Merece que se lute por ele, até a vitória, sempre.