A esperança e a democracia ganham força com a vitória na Bolívia

Luis Arce Bolivia - Foto: Ernesto Andrade/Hora do Povo

A vitória de Luis Arce nas eleições da Bolívia tem um importante significado para a América Latina. Foi, ao mesmo tempo, uma derrota da tendência de avanço da direita mais extremada na região. O resultado fortalece um polo, ainda incipiente, mas de relevante significado político, de viés progressista, formado pelos governos argentino e mexicano, presididos por Alberto Fernández e Lopez Obrador, respectivamente.

O partido liderado pelo ex-presidente Evo Morales, o Movimento Ao Socialismo (MAS), retoma o posto de liderança política no país, reavivando a esperança de volta ao caminho que deu à Bolívia um ciclo de desenvolvimento econômico e de progresso social. Pode-se prever, também, o recrudescimento da ofensiva da extrema direita para inviabilizar os êxitos das propostas de governo vitoriosas nas urnas.

O que se prenuncia é um ciclo de grandes desafios e instabilidade. Além da pressão política nacional e internacional das forças que se opõem à retomada da tendência progressista com certa força na região, há o agravamento da crise econômica e a falta de perspectiva de um controle efetivo do avanço da pandemia de coronavírus. Os efeitos econômicos da propagação descontrolada da Covid-19 em grande parte do mundo são trágicos.

Conta também, no rol das dificuldades prenunciadas, o enfraquecimento da estrutura de unidade dos países da região que fortalecia suas potencialidades, sobretudo pela vitória da marcha golpista no Brasil, consolidada com a eleição de Jair Bolsonaro em 2018. O mais significativo dos instrumentos de união sul-americana, a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), possibilitou ao Brasil desempenhar papel protagonista no cenário mundial, sobretudo no âmbito do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Essa cadeia unitária dos chamados países em desenvolvimento possibilitou, em grande medida, os avanços sociais e econômicos nos países da região, como foi o caso da Bolívia. Nessa retomada do processo democrático daquele país, não existe a força daquele movimento de unidade. Mas a vitória do MAS catalisou imensa energia e mobilização popular e atraiu setores das camadas médias urbanas. Apoiado nessa vitória que se anuncia consagradora, Arce, com amplitude e firmeza, está chamado à restaurar a democracia e a soberania em seu país, ajudando a constituir uma barreira à expansão da extrema direita na região.

Diante de tantos desafios, o presidente eleito, um dos principais responsáveis pelos êxitos dos governos de Evo Morales, se compromete a governar para todos os bolivianos. “Vamos construir um governo de unidade nacional, vamos construir a unidade do país”, afirmou Luis Arce, disposto a trabalhar junto com o vice-presidente, David Choquehuanca, para “responder a toda essa expectativa, a toda essa esperança que o povo boliviano está depositando nestes dois humildes servos”.

A atenção com que as eleições bolivianas foram acompanhadas retrata a sua importância estratégica. O resultado se soma a outros movimentos que despontam na região, como o levante popular no Chile e as manifestações de apoio ao governo de Alberto Fernández na Argentina, uma tendência que no Brasil deve ser apoiada com ações que levem o bolsonarismo ao isolamento e à derrota.