A ética cambiável de Pedro Simon

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) costuma ser apontado por comentaristas políticos da grande imprensa como uma ''reserva moral'' da política […]

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) costuma ser apontado por comentaristas políticos da grande imprensa como uma ''reserva moral'' da política brasileira. O próprio senador gaúcho alimenta a alcunha proferindo, dia sim, dia não, discursos emocionados na tribuna do Senado, de onde cobra comportamento ético de seus colegas, como fez na última terça-feira (14) ao pedir a renúncia do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).


 


“Presidente Sarney, renuncie. Renuncie. Esse desgaste está lhe fazendo mal. A gente sente que V. Exª está numa situação dolorosa. Eu sinto muito, mas renuncie com grandeza, Presidente. Renuncie. (…) querer sucumbir, ficar e carregar o Senado junto, não vale a pena”, disse Simon.


 


Mas o mais curioso no discurso de Pedro Simon é a invocação que faz do 'perdão midiático' como argumento para sugerir que Sarney renuncie. “A história tem mostrado que as pessoas que tiveram capacidade de renunciar tiveram carinho e admiração por parte da imprensa”, completou o senador gaúcho.


 


Para o peemedebista, os escândalos no Senado chegaram a um nível intolerável e Sarney é a personificação da crise que aquela Casa legislativa atravessa. Não é a primeira vez que Simon pede a renúncia de políticos acusados de alguma irregularidade pela imprensa. Simon diz ainda que a situação de Brasília lhe causa vergonha. Estranho é verificar que quando muda de cenário, deixando o Congresso Nacional para se reunir na Assembléia Legislativa do rio Grande do Sul, Pedro Simon adota outra postura diante de escândalos e deixa a vergonha de lado.


 


Reunido nesta semana com deputados estaduais da base de apoio da governadora gaúcha Yeda Crusius (PSDB), Pedro Simon, que é presidente do PMDB gaúcho, defendeu que seu partido continue, por enquanto, dando sustentação ao governo Yeda, afundado em denúncias de tráfico de influência, desvio de dinheiro público, má gestão, formação de quadrilha e outros crimes.


 


“Estamos esperando a decisão da Procuradoria para ver a posição em que se encontram as questões. Se o PMDB sair, pura e simplesmente, implode o governo. O isolamento da governadora é algo negativo que nós não gostaríamos que acontecesse”, justificou Simon.


 


Não se ouviu ainda do senador nenhuma palavra de condenação sobre as sucessivas denúncias que atolaram o governo gaúcho num mar de lamas sem precedentes. Renúncia de Yeda, então, é coisa que Simon sequer cogita. Em outra ocasião, ele chegou a qualificar a crise no RS como “uma briguinha interna”, mera “disputa político-eleitoral”.


 


Esta ética cambiável de Pedro Simon é representativa do comportamento de muitos outros integrantes da oposição ao governo Lula. Uma oposição que clama por CPIs na esfera federal, mas move céus e montanhas para impedir investigações em Curitiba, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul, onde governantes tucanos enfrentam denúncias diversas.


 


Não se trata de querer sugerir que “nos locupletemos todos” para tentar inocentar José Sarney ou qualquer outro político envolvido em denúncias. Trata-se de cobrar coerência da oposição. A continuar agindo de forma incoerente e adotando éticas seletivas, Simon, a oposição e a mídia perdem o direito de desqualificar as denúncias que atingem seus aliados como mera “disputa político-eleitoral”.