A merecida denúncia do racismo sionista

Na última segunda-feira (20), durante a Conferência Mundial da ONU sobre o Racismo, realizada em Genebra, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad  — único chefe de Estado a prestigiar o evento — denunciou o ''racismo'' de Israel e a cumplicidade dos Estados Unidos e de governos ocidentais com a ''política repressiva'' e a ''brutalidade'' dos israelenses contra os palestinos.



Ahmadinejad fez a denúncia certa, no lugar certo, mas talvez na hora errada: a poucos dias das celebrações judaicas em memória das vítimas do holocausto.


 


A poderosa máquina de propaganda do sionismo conseguiu convencer o mundo ocidental de que qualquer crítica ao Estado de Israel é por si só uma declaração de antissemitismo. E foi com esse entendimento que uma dezena de países, sobretudo europeus, decidiu aproveitar-se do incidente para boicotar a Conferência.



Mas a ausência mais sentida foi a dos Estados Unidos, que já tinham boicotado o primeiro encontro da ONU sobre o racismo em Durban, na África do Sul, em 2001 e, agora, sob o mesmo pretexto, volta a boicotar o encontro de Genebra, mostrando que para além de sua relação umbilical com Israel, o governo dos EUA, mesmo sob a batuta de um presidente negro, menospreza o problema do racismo, como se não fosse um problema seu.



A quase unânime condenação dos países ocidentais ao discurso de Ahmadinejad ignora as atrocidades cometidas por Israel contra os palestinos. Atrocidades que lembram ações de limpeza étnica e já foram consideradas como genocídio por diversos organismos internacionais.



O tratamento que Israel dispensa aos palestinos é cruel, desumano, segregacionista, intolerável, como todas as manifetações de racismo. Em muitos aspectos ele repete o sofrimento do povo sul-africano sob o apartheid; basta citar o muro que Israel construiu para afastar os palestinos de seus domínios. As prisões ilegais, inclusive de crianças, as humilhações, a demolição de casas, a devastação de lavouras, o controle da água e os bombardeios indiscriminados contra a população civil palestina também lembram o sofrimento imposto aos judeus, aos comunistas, homossexuais, ciganos e aos povos dos países ocupados pelos nazistas durante a II Guerra Mundial.



Só na última ofensiva contra a Faixa de Gaza, que durou 22 dias, cerca de 1,5 mil palestinos morreram; a maior parte deles eram civis, sobretudo mulheres e crianças; outros milhares ficaram feridos e mais de um milhão desabrigados. Escolas, templos, hospitais e instalações da ONU foram bombardeadas. Soldados israelenses acusaram seus superiores de darem ordens para atirar contra ambulâncias e impedir o socorro dos feridos. Israel mandou cortar a água, a energia elétrica, e impediu que os palestinos tivessem acesso a combustível, comida e medicamentos numa sucessão abominável dos piores crimes de guerra.



O iraniano Mahmoud Ahmadinejad é, sabidamente, um líder político de palavra fácil, digamos assim. E cerrtamente foi rude ao dirigir-se aos participantes daquele fórum internacional. A política, como a guerra, nem sempre é pautada pelas boas maneiras. E, de qualquer forma, se o genocídio cometido por Israel contra os palestinos não pode ser denunciado num fórum em que se discute o racismo, a xenofobia e a intolerância, então para que serviria mesmo aquela reunião?