A pobreza do PIB de Bolsonaro e Guedes

O crescimento de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no primeiro trimestre deste ano, na comparação com os últimos três meses de 2020, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não é motivo para comemoração. O governo Bolsonaro tenta apresentá-lo como “recuperação forte”, inclusive nivelando com o índice anterior à pandemia, que, por sinal já era baixo.

O fato é que, desde então, houve um enorme crescimento da pobreza, aumentou a desigualdade social em níveis anteriores ao início deste século, o desemprego está em patamares elevadíssimos e há uma enorme quebradeira de empresas. A recuperação, portanto, não atende às necessidades do país. Esse é mais um pequeno crescimento, depois das quedas registradas no ano passado, de 2,2% no primeiro trimestre e de 9,2% no segundo trimestre.

Falta base para se falar da possibilidade de um crescimento com um mínimo de sustentabilidade com essa política econômica bolsonarista, comandada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Um dado elementar para isso é a taxa de investimentos, que vem caindo sistematicamente nos últimos anos. Sem esse alicerce, não se pode projetar a retomada do crescimento de forma consistente, o que leva à conclusão de que esses pequenos índices dos últimos meses são apenas movimentos inerciais em meio à crise estrutural da economia.

Trata-se de um dilema de orientação ideológica. O mantra de Guedes, que se traduz em dogmas que não transcende à proclamação, é de que o “ajuste fiscal” abrirá portas inimagináveis para uma torrente de investimentos privados. Com o Estado devidamente amordaçado pela legislação que está sendo criada para tirar sobretudo da Constituição os instrumentos de democratização de suas políticas, o governo garante a estabilidade orçamentária para o livre funcionamento do circuito de acumulação financeira, às custas de um brutal arrocho nos investimentos públicos.

É uma mera derivação de algo sem concretude. Ou a velha tese de que basta o governo fazer a “lição de casa” para que os grandes capitalistas corram para cá com investimentos vultosos. O Brasil já caiu nesse conto do vigário em tempos passados, como na ditadura militar no período neoliberal, com resultados que foram verdadeiras tragédias sociais. Mais uma vez, o país está diante da mesma receita. E o resultado, já vistos por todos os lados, é o mesmo.

Não se pode esperar, com essa política, algo além desses números pífios repetidos nos últimos meses. Com o agravante de que ela representa uma destruição nacional em dimensões superiores às mesmas políticas aplicadas no passado. Enfrentar esse desastre implica abrir caminhos para novos rumos políticos, e, naturalmente, no debate sobre alternativas de reconstrução nacional a partir de um verdadeiro crescimento sustentável, tendo como carro-chefe os investimentos públicos.