A unidade palestina avança rumo à independência e à paz

Os levantes que ocorrem nos países árabes já deram um resultado positivo: com o apoio e a intermediação do governo interino do Egito, as duas facções palestinas que, desde 2007, estavam rachadas e controlando, cada uma, um dos territórios palestinos, assinaram um acordo de reconciliação. A Al Fatah, à frente da Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia, e o Hamas, à frente da Faixa de Gaza, deram um passo histórico indispensável para o êxito da causa palestina.

O acordo, anunciado no final de abril e assinado no Cairo no dia 4 de maio, prevê um governo unificado com a participação das duas organizações e apoiado por 13 outros grupos palestinos, entre eles a Jihad Islâmica, a Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), a Frente Democrática de Libertação da Palestina (FDLP) e o Partido do Povo Palestino (comunista). Serão convocadas eleições presidenciais, parlamentares e para o Conselho Nacional Palestino.

O mais importante é o reforço que a unidade alcançada significa para o reconhecimento internacional do Estado Palestino. A partir de agora, aumentarão as gestões diplomáticas para que a ONU reconheça a soberania palestina com capital em Jerusalém Oriental e nos limites anteriores a 1967, quando o exército de Israel ocupou o território palestino.

Israel e o governo dos EUA manifestaram sua oposição assim que o acordo palestino foi divulgado. Afinal, a divisão palestina favorecia os planos de ocupação de Israel e de subjugação do povo palestino, apoiados pelos EUA. E o fim da divisão altera profundamente os planos do imperialismo e do sionismo para a região, pois enfraquece e isola ainda mais o governo de Israel, que é a ponta de lança imperialista no Oriente Médio e o principal obstáculo à paz. O acordo, assim, é mais uma derrota para a diplomacia agressiva e antipaz de Barack Obama e do Departamento de Estado dos EUA e do governo direitista, expansionista e agressivo de Israel. É mais uma indicação de que a região pode seguir rumos diferentes daqueles imaginados em Washington e Tel Aviv.

Uma das maneiras que o imperialismo estadunidense encontrou para expressar sua insatisfação com o acordo palestino foi o questionamento de algumas atitudes do novo governo egípcio. Além de ter facilitado a reconciliação entre o Fatah e o Hamas, o Egito permitiu a passagem de navios iranianos no Canal de Suez, o que não ocorria desde 1979, e começou a fazer esforços para normalizar as relações com o Irã; outro sinal de mudança do Egito pós-Mubarak é a iminente suspensão do bloqueio egípcio à fronteira na Faixa de Gaza, tornando praticamente sem efeito o bloqueio que Israel impõe àquele território palestino há cinco anos.

Além disso, o novo governo egípcio juntou-se àqueles que, no Oriente Médio, Europa e América Latina, apoiam o reconhecimento do Estado Palestino que, agora, vai ser proposto com mais força na próxima assembleia geral da ONU, em setembro, contra a vontade dos EUA e de Israel. E ajudando a criar, assim, uma situação de fato consumado que será mais um obstáculo para a diplomacia dirigida por Hillary Clinton para manter o status quo no Oriente Médio.

O apoio à causa palestina se amplia de forma visível, mesmo dentro do Estado judeu. Recentemente, o Partido Comunista de Israel voltou a afirmar a defesa da paz e o reconhecimento do Estado palestino independente com capital em Jerusalém oriental e respeitando as fronteiras de 1967. Este objetivo, diz a nota do PCI, serve aos interesses dos povos de Israel e da Palestina “que tentam alcançar uma paz justa e estável, baseada no fim da ocupação, evacuação dos assentamentos e uma solução ao problema dos refugiados de acordo com as resoluções da ONU”. Além disso, um conjunto de personalidades israelenses, entre elas intelectuais, professores universitários e 20 agraciados com o Prêmio Israel, o mais importante do país, assinaram um manifesto que apoia a criação do Estado Palestino nestes mesmos termos.

O governo de Tel Aviv, apoiado por Washington, esbravejou e repetiu as costumeiras ameaças; lembrou o “vasto arsenal de medidas” que pode usar contra a vontade palestina de conquistar a soberania e a paz. A história de agressões e massacres contra os palestinos nas últimas décadas já demonstrou a capacidade do governo sionista de recorrer a todos os meios possíveis, inclusive ao terrorismo de Estado e à violação do direito internacional, para impor pela força sua decisão de esmagar os palestinos – a guerra, o assassinato político, a retenção ilegal de impostos, o bloqueio que leva fome, miséria e doenças aos palestinos. Nada disso venceu a obstinação e o heroísmo de um povo que luta por sua independência e autonomia. E que, agora, frente ao mundo, com a reconciliação e a unidade, dá um passo rumo à paz.