Álvaro Cunhal, dirigente comunista, gigante do pensamento e ação

O Portal Vermelho associa-se às comemorações dos militantes do Partido Comunista Português e de todo o povo irmão, no transcurso […]

O Portal Vermelho associa-se às comemorações dos militantes do Partido Comunista Português e de todo o povo irmão, no transcurso do centenário natalício do saudoso camarada Álvaro Cunhal. 

O artigo que figura no mais destacado espaço desta edição dominical, escrito pela cientista social Rita Coutinho, dirigente estadual do Partido Comunista do Brasil em Santa Catarina, expressa a opinião do Portal Vermelho sobre esta figura ímpar do movimento comunista internacional. Mas não poderíamos deixar de registrar também em Editorial a admiração por este destacado dirigente e intelectual comunista.

Não foi apenas o século 20 português que ficou indelevelmente marcado pela impressionante personalidade de Álvaro Cunhal, com o seu combate ao regime fascista de Salazar, que lhe cobrou alto preço pessoal. Álvaro Cunhal foi também ministro sem pasta nos primeiros quatro governos provisórios instalados após a vitória da Revolução dos Cravos (25 de abril de 1974), deputado à Assembleia Constituinte e à Assembleia da República. Foi também membro do Conselho de Estado durante praticamente toda a década de 1980 e até o início dos anos 1990. E um brilhante intelectual e artista.

O século 20 de toda a humanidade também ficou marcado por esse gigante do pensamento e da ação revolucionários. Quando havia mais treva do que luz no horizonte, após a derrocada do sistema socialista na União Soviética e no Leste europeu; quando o espaço político foi ocupado pela contrarrevolução, a liquidação das conquistas democráticas e sociais, a ofensiva desenfreada do imperialismo, Álvaro Cunhal, com a prudência dos sábios, ensinava que o século 20 não foi a época em que o socialismo morreu, mas tão somente quando este sistema político, econômico e social libertador surgiu.

Foi imensa e rica a sua contribuição para o fortalecimento do movimento comunista internacional, de apoio ao movimento de libertação nacional, à luta pela paz, pela emancipação nacional e social dos trabalhadores e dos povos. Cunhal sistematizou e pôs em prática uma concepção de partido patriótico e internacionalista, que é um dos traços fundamentais do Partido Comunista Português.

A sua obra teórica e prática como dirigente comunista revelou um talentoso analista da realidade concreta de seu país e do mundo, das correlações de força e das situações peculiares. Distinguiu-se assim por seu tirocínio de estrategista e tático, que soube orientar o Partido Comunista e os trabalhadores portugueses em complexas batalhas, elaborando e aplicando uma linha política revolucionária.

O camarada Álvaro Cunhal foi, à frente de um grande coletivo de militantes e dirigentes, o artífice da construção do Partido Comunista Português como um grande partido nacional, da classe operária, dos trabalhadores e de todo o povo, um partido revolucionário, marxista-leninista, com nítida identidade comunista. Avesso ao estrelismo e ao individualismo, firmou a concepção de que o Partido Comunista é um coletivo unificado em torno dos princípios do marxismo-leninismo, da linha política, da ação revolucionária, uma organização viva e atuante, ligada às massas, cujo método de funcionamento são a direção coletiva, a democracia interna e o centralismo democrático. Seu livro O Partido com Paredes de Vidro, de 1985, é uma obra-prima sobre questões de Partido, um indispensável guia para os comunistas portugueses, com validade universal.

Como marxista-leninista convicto, conhecedor profundo do materialismo dialético e histórico, Álvaro Cunhal sabia que a história se desenvolve a partir de leis objetivas. Conhecia a inexorabilidade da luta de classes, o papel do proletariado, das massas populares como motor da história. Assim, figura fascinante e querida, conservou a modéstia e um estilo de vida simples, em que o rigor e a disciplina no trabalho se combinavam com o respeito e a maneira afável como lidava com as pessoas. Foi sempre infenso ao culto à personalidade.

Sua vida e sua obra são a comprovação de que, sendo verdadeiro que o decisivo na história é o papel das massas, também o é que sob determinadas condições surgem homens e mulheres que, com sua ação singular, fazem a história avançar ou recuar, pois sem indivíduos que se dediquem à organização, à teoria revolucionária, à preparação das massas em lutas concretas, não há revolução política e social. As condições objetivas determinam o aparecimento de individualidades que, por suas capacidades diferenciadas, dão o rumo, indicam a direção, formulam a rota a trilhar, orientam, organizam, mobilizam, dirigem. Sem dirigentes revolucionários dotados dessas qualidades, não é possível desatar a ação consciente das massas, descobrir e desencadear as energias criadoras e transformadoras dos povos.

Álvaro Cunhal foi um desses dirigentes. Por isso, é depositário das justas homenagens do povo português, dos seus camaradas do PCP e da imensa legião de comunistas que em todo o mundo aprenderam com sua obra. O Partido Comunista e a luta pelo socialismo não prescindem de homens como Álvaro Cunhal.