Ampla convergência contra Bolsonaro

O manifesto assinado por lideranças de um campo importante da oposição sobre a irresponsabilidade criminosa do presidente é um fato de grande relevância.

Os signatários afirmam que a irresponsabilidade do presidente Bolsonaro põe em risco a vida e a saúde de muitos brasileiros, além de ameaçar a economia nacional, já combalida pela política econômica comandada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

Assinam o manifesto Carlos Siqueira, presidente do PSB; Carlos Lupi, presidente do PDT; Edmilson Costa, presidente do PCB; Juliano Medeiros, presidente do PSOL; Luciana Santos, presidenta do PCdoB; Gleisi Hoffmann, presidenta do PT; Fernando Haddad, ex-candidato à presidente pelo PT; Flavio Dino, governador do estado do Maranhão (PCdoB); Ciro Gomes, ex-candidato a presidente pelo PDT; Guilherme Boulos, ex-candidato a presidente pelo PSOL; Manuela d’Avila, ex-candidata a vice-presidenta (PCdoB); Roberto Requião, ex-governador do Paraná (PR); Sonia Guajajara, ex-candidata a vice-presidenta (PSOL) e Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul.

Bolsonaro tem usado o cargo para tentar impor sua conduta autoritária, à essa altura repudiada por quase todos os setores da sociedade. Age com absoluta irresponsabilidade, pregando lições que contrariam as normas sanitárias, a autoridade de organismos internacionais de reconhecida competência – como a OMS – e até mesmo o bom sendo.

Com essa conduta, Bolsonaro vai perdendo autoridade e legitimidade para exercer o cargo de presidente da República. Como afirma o manifesto, ele “não tem condições de seguir governando o Brasil e de enfrentar essa crise, que compromete a saúde e a economia”. “Comete crimes, frauda informações, mente e incentiva o caos, aproveitando-se do desespero da população mais vulnerável”, enfatiza.

O manifesto tem o mérito de denunciar Bolsonaro com a contundência que o momento exige. “Falta a Bolsonaro grandeza. Deveria renunciar, que seria o gesto menos custoso para permitir uma saída democrática ao país. Ele precisa ser urgentemente contido e responder pelos crimes que está cometendo contra nosso povo”, afirma.

O documento se destaca também por ser o primeiro assinado conjuntamente por representantes de praticamente toda a esquerda e centro-esquerda desde que Bolsonaro foi eleito, em 2018. Outro aspecto importante é a plataforma apresentada como um Plano de Emergência Nacional.

Além da manutenção e qualificação das medidas de redução do contato social, de acordo com critérios científicos, o documento apresenta propostas como criação de leitos de UTI e importação massiva de testes e equipamentos de proteção para profissionais e para a população; implementação Renda Básica; suspensão da cobrança das tarifas de serviços básicos para os mais pobres; proibição de demissões; e regulamentação imediata de tributos sobre grandes fortunas, lucros e dividendos.

Essa aglutinação pode descortinar um horizonte de ação amplo, agregando mais forças e alargando o leque de representações da sociedade para livrar o país das mãos desse governo irresponsável. Ela se soma às ações de governadores de um espectro que vai da esquerda à direita, que convergem na defesa da saúde, da vida e da atividade econômica.

No âmbito do Congresso Nacional, os presidentes da Câmara do Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AC), além das bancadas de um amplo leque de partidos políticos, também estão se posicionando. Da mesma forma, o STF vem desempenhando papel importante, assim como setores da imprensa, instituições da sociedade civil, autoridades médicas e sanitária.

Vai se formando um arco largo contra Bolsonaro. O manifesto dos partidos de esquerda e centro-esquerda e a tomada de posição de outras forças indicam que é possível a convergência de amplos setores políticos, sociais e econômicos, que assume caráter salvação nacional. Em outras iniciativas, a Rede também tem sido signatária.

Nessa frente, devem se somar, além dos que se opõem a Bolsonaro, todas as força que têm contradição com o presidente – como o governador do estado de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), que rompeu publicamente com Bolsonaro, e o PSDB que, em nota, disse que, “mais uma vez, o presidente da República demonstra não estar à altura do que merece o povo brasileiro”.