As manobras para isolar a Venezuela
O que no início parecia apenas uma refrega retórica, envolvendo alguns senadores da direita brasileira e o presidente Hugo Chávez, […]
Publicado 05/07/2007 12:03
O que no início parecia apenas uma refrega retórica, envolvendo alguns senadores da direita brasileira e o presidente Hugo Chávez, vai adquirindo agora sua verdadeira e gravíssima dimensão, colocando em risco o inédito esforço da integração latino-americana. Tudo começou com a ingerência indevida do Senado, a partir de um requerimento de Eduardo Azeredo, ex-presidente do PSDB e fundador do “valerioduto”, que criticou a decisão soberana do governo venezuelano de não renovar a concessão da golpista RCTV. Logo na seqüência, o líder bolivariano disparou, acusando os senadores de “papagaios do império”. O desabafo foi o sinal para a direita brasileira e sua mídia venal questionarem o ingresso da Venezuela no Mercosul.
A direita brasileira, servil aliada dos EUA, nunca criticou a censura imposta pelo presidente George Bush à imprensa daquele país, através da Patriot Act, ou os campos de tortura de Guantanamo e de Abu Ghraib, ou o fim de dezenas de concessões públicas de televisões nos EUA e na Europa – mas resolveu cutucar o presidente da Venezuela, numa provocação rasteira. A manobra era evidente: ela nunca concordou com os esforços do governo Lula e de outros governantes progressistas da construção de um bloco regional capaz de se contrapor aos desígnios do império. O seu sonho, acalentado por FHC, era o da vigência do tratado neocolonial da Alca, da implantação da base militar em Alcântara e das “relações carnais” com os EUA.
O episódio da RCTV, que nada tem a ver com as relações econômicas, sociais e políticas do Mercosul, foi o pretexto encontrado pela direita brasileira, bem ao gosto do imperialismo, para tentar implodir o esforço da integração regional. Deixada a aparência de lado, agora fica exposta a essência da manobra. “Indústria pede que Congresso rejeite adesão venezuelana”, comemorou o jornal Folha de S.Paulo desta quinta-feira (5). Barões do agronegócio e magnatas de poderosas corporações destilam seu ódio contra a experiência bolivariana. O embaixador Rubens Barbosa, membro da equipe entreguista de FHC e mentor de Geraldo Alckmin, declara que o ingresso da Venezuela prejudicará o acesso do Mercosul ao mercado dos EUA.
Só os ingênuos e os mal-intencionados não percebem a sórdida manobra em curso. O problema não é de retórica, mas eminentemente político e estratégico. Aparentemente, o presidente Lula está antenado. Seu governo apostou todas as fichas na integração regional, não se curvou diante da pressão da elite para que declarasse “guerra” à Bolívia e nem fez coro com as viúvas da RCTV. Ontem mesmo o presidente voltou a qualificar a relação com a Venezuela de “extraordinária”, citando o gasoduto que “atravessará toda a América do Sul” e os projetos conjuntos entre as estatais Petrobras e PDVSA. Evitando fazer este debate estratégico através da mídia venal, Lula informou que procurará Hugo Chávez para solucionar o impasse.