Avanço progressista em 2006

A ano de 2006 poderá ficar na história como aquele em que, tendo começado com ares que pareciam favorecer a direita e o conservadorismo neoliberal, terminou registrando um grande revés para estes setores – ensejando, assim, um balanço positivo nestes 365 dias.


 


No início do ano, os ataques contra o governo Lula e os partidos da base aliada ainda eram avassaladores, proliferando na imprensa que faz parte do sistema de poder dominante. E o governo do presidente Lula, embora em recuperação, ainda sangrava em conseqüência dessas investidas, num cenário que apontava dificuldades grandes, que se acentuariam numa disputa eleitoral que se anunciava apertada, com chances para os conservadores do eixo PSDB / PFL, e na qual os partidos de esquerda – o PT, em especial – sairiam menores, ampliando a representação da direita no Congresso Nacional.


 



Não foi o que aconteceu. A disputa foi realmente difícil, e o arsenal de “maldades” da direita parecia infindável, com manobras sujas para criar fatos políticos de impacto e capazes de forte rendimento eleitoral, como a exploração do caso da compra do dossiê por militantes petistas, que gerou a foto de uma pilha de dinheiro e levou a eleição presidencial para o segundo turno.


 



Mas os vaticínios da direita e de seus comentaristas e analistas baseavam-se numa realidade passada, sem considerar as profundas mudanças que ocorreram no Brasil nas últimas décadas, e que se consolidaram durante o primeiro mandato do presidente Lula. Elas consistem na acelerada urbanização que concentrou o eleitorado em cidades médias e grandes, onde o tradicional mando dos coronéis do sertão tem dificuldades para se reproduzir; no crescimento do sentimento democrático dos brasileiros, decorrente das grandes campanhas de massa desde o final da ditadura militar (a luta pela anistia, pela Constituinte, as greves dos anos 70 e 80, as Diretas Já, o Fora Collor, a luta contra as privatizações, a extensão da exigência de reforma agrária, entre outras campanhas massivas); o fortalecimento do sentimento nacional e pela defesa da soberania de nosso país, expresso por exemplo na repulsa dos brasileiros ante a proposta da Alca. Estes são apenas alguns fatores daquela mudança, que levou à eleição do presidente Lula em 2002 e à sua reeleição este ano.


 



A direita não teve acuidade para perceber estas mudanças e continuou acreditando em velhos dogmas, como a capacidade manipulatória da mídia, que não pode ser desprezada e continua grande, mas – como a eleição deste ano demonstrou – não pode tudo; no papel da “classe média” (isto é, dos setores de renda mais alta deste extrato social) como formador de opinião, repetindo de certa forma, nas cidades, o cabresto tradicional do sertão. E centrando suas campanhas em apelos de caráter moralista e despolitizante, com a proliferação de acusações de escassa base factual contra seus adversários políticos do campo progressista e da esquerda.


 



Abertas as urnas do dia 1º de outubro, o desenho da derrota da direita era indisfarçável. Contra todos os prognósticos dos sabichões de plantão da mídia, o PMDB saiu das urnas com a maior bancada federal, seguido de perto pelo PT; bem abaixo, e com votação declinante, estavam o PSDB, seguido pelo PFL. Mesmo no Senado, PMDB e PFL saíram praticamente empatados, embora o PFL em desvantagem porque tinha, entre seus senadores, a maranhense Roseana Sarney, de malas prontas para trocar o partido pelo PMDB. O PCdoB, com quase 2 milhões de votos (2,1% do total) para a Câmara dos Deputados e mais de 6 milhões para o Senado (7,5%, a quinta maior votação), teve um desempenho memorável.


 



No segundo turno, Lula superou os 58,3 milhões de votos (mais de 60% dos votos), enquanto o tucano Geraldo Alckmin conseguiu a façanha de ter menos votos do que no primeiro turno, caindo de 39,9 milhões de votos para 37,5 milhões.


 


A direita foi a grande derrotada. Entre as oligarquias estaduais, o carlismo baiano foi ícone deste declínio que revela um protagonismo popular promissor e aponta para um despertar democrático que pode renovar o cenário político brasileiro. Foi, como disse o senador comunista eleito Inácio Arruda, uma “varredura de oligarquias assentadas há 30, 40 anos no Nordeste”.


 



Mas a mídia e os chamados formadores de opinião (incluídos entre eles setores de classe média sempre tidos como tais pelos analistas políticos) também acertaram pouco e perderam credibilidade. O último acontecimento dessa queda foi a declaração de inconstitucionalidade da cláusula de barreira, pelo STF, que desfez sonhos de hegemonismo construído à margem da constituição.


 


O Brasil saiu rejuvenescido da eleição. Ano Novo prenuncia-se com amplas possibilidades de novas vitórias para o Brasil e seu povo. É claro que o conservadorismo utilizará todo seu poderio para impedir ou dificultar que essas possibilidades se realizem.



O governo Lula e os partidos da base aliada fortalecidos com os resultados alcançados nesse ano que termina têm condições políticas mais favoráveis para tornar realidade o compromisso assumido de implementar a retomada de um processo de desenvolvimento mais acelerado. Se a derrota da direita foi a marca principal de 2006, o traço característico de 2007 poderá ser este, o da vitória do povo na busca do desenvolvimento, do fortalecimento da economia nacional e do bem estar dos brasileiros.