Batalha pela presidência da Câmara é decisiva para a esquerda

A definição dos campos que disputarão a presidência da Câmara dos Deputados tem enorme importância para os próximos passos da luta política no país. Os encaminhamentos apontam para duas tendências, uma abertamente bolsonarista e outra com margens para ampliação da luta democrática. Essa disputa tem sentido estratégico. Nela estão os fundamentos do pacto democrático de 1988, a tática de erguer barreiras para conter as investidas de Bolsonaro contra o Estado Democrático de Direito.

Não resta dúvida de que essa é a grande batalha do momento. Será a partir da defesa da Constituição que outras lutas se desenvolverão, como a da soberania nacional e dos direitos do povo. A equação que se impõe é a formação de um campo comprometido com a institucionalidade democrática do país para que dentro dele possa haver espaços de mediação e mesmo de enfrentamentos na defesa das conquistas sociais da Constituição.

É importante considerar que a Constituinte foi um passo decisivo para que se formasse um pacto democrático que assegurasse as históricas bandeiras levantadas pelas forças democráticas, patrióticas e progressistas. Sua consecução custou vidas, torturas e exílios. E incorporou o sentido da luta de todos que batalharam para que o país pudesse atingir um patamar razoável de civilização, de progresso social e de desenvolvimento econômico.

Quando se fala da disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, tudo isso está em questão. A razão de ser das forças democráticas, patrióticas e progressistas é a defesa dessas bandeiras. Após o pacto democrático de 1988, essa defesa passou por diferentes estágios e atingiu um alto grau de agudização com a eleição de Bolsonaro em 2018, que nunca escondeu, desde sempre, seu antagonismo com o regime democrático. A conclusão de que a defesa da democracia é o vértice de todas as ações políticas no país se impõe exatamente por isso.

Todas as sucessões na presidência da Câmara dos Deputados têm grande importância. Mas essa assume sentido estratégico por conta do projeto bolsonarista de se assenhorear do Poder Legislativo com o objetivo de avançar com sua pauta autoritária. A formação de um campo que se opõe a esse objetivo é a demonstração cabal de que amplos setores políticos e ideológicos não subestimam os intentos de Bolsonaro. E ninguém mais do que a esquerda tem interesse na soma de forças para enfrentar o boslonarismo.

A consolidação desse bloco, como se vê, não se dá por adesismo, tampouco pela renúncia de princípios fundamentais das forças progressistas. Pelo contrário. Será no âmbito dessa contradição fundamental que outras surgirão, numa condição de luta assentada na soma de forças comprometidas com a defesa da democracia. Mesmo na formação desse campo os setores progressistas podem avançar, como foi o caso do Manifesto dos partidos de esquerda, dando passos decisivos para a sua unidade inclusive para outras batalhas igualmente decisivas.