Belém, Davos, e o futuro
Não é apenas o calor equatorial e o frio alpino que colocam em pólos opostos a capital paraense, Belém, e […]
Publicado 29/01/2009 12:41
Não é apenas o calor equatorial e o frio alpino que colocam em pólos opostos a capital paraense, Belém, e a pequena cidade suíça de Davos: nelas se reúnem, nesta semana, numa, a vanguarda do movimento social e político do mundo; na outra, a nata da riqueza do planeta.
O grande tema que sobrevoa as duas reuniões é a crise financeria mundial, com sinal trocado, como indica a lembrança do ativista Chico Whitaker, um dos fundadores do Fórum Social Mundial, dos dois sentidos da palavra crise para os chineses: risco e oportunidade. É uma boa alegoria para a situação atual na qual, em polos opostos, os povos podem entrever a chance de mudar e avançar, enquanto os ricos vêm o neoliberalismo à beira do naufrágio. Em Belém o debate na nona versão do FSM é sobre os caminhos para um outro mundo possível, e socialista. Em Davos, na 39ª versão do Fórum Econômico Mundial, os ricos do mundo querem salvar o capitalismo. Naquela, a reunião começou dia 27 em clima de preocupação e otimismo. Na Suíça, o encontro foi aberto, dia 28, em ambiente de velório.
É uma situação reconhecida pelos principais protagonistas da reunião de Davos que, até o ano passado, foi o principal altar da globalização neoliberal, movida pela ganância e pela busca do lucro ilimitado. Seu criador, o suíço Klaus Schwab reconheceu que aquele fórum de ricaços subestimou os sinais da crise, sendo responsável por ela. ''Não demos atenção suficiente (aos alertas e sinais da crise). Era conveniente, politicamente, achar que o mundo poderia continuar crescendo de forma insustentável e que tudo continuaria igual. Todos somos responsáveis'', disse recentemente. Agora, ele defende a reforma para que o capitalismo possa supera a crise e continuar causando os mesmos males que tem causado para a humanidade. Ele quer ''reconstruir a arquitetura financeira mundial''.
O brasileiro Roberto Teixeira da Costa, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), e figura costumeira nos cenários frequentados pelos ricos do mundo, como Davos, enfatizou a gravidade da situação com imagens fortes ao dizer que ''problemas aparentemente já resolvidos, como a situação dos bancos, ainda estão presentes'', como se ''vários cadáveres sepultados se levantassem e dançassem na nossa frente''. E considerou precipitado o debate da nova arquitetura da economia mundial: ''É como se a sua casa estivesse em chamas, e você estivesse conversando com o arquiteto para ver qual seria o novo desenho dela”, comparou.
Belém e Davos são ambientes que exprimem a contradição do mundo capitalista – num, debate-se o futuro da humanidade; noutro, a sobrevivência do passado. Desde 2001, quando foi realizado o primeiro FSM, em Porto Alegre, a luta anti-capitalista cresceu. Ela ainda é contraditória, sem um programa claro nem uma expressão orgânica capaz de implementar a consigna ''um novo mundo é possível''. Mas a busca por este caminho se fortalece. Ao contrário do que ocorre em Davos, cidade suíça famosa por seus sanatórios, onde o capitalismo lambe suas feridas.