Bem-vindo, presidente do Irã 

Na próxima quarta feira, dia 5, o presidente do Irã, Mahamoud Ahmadinejad, desembarcará em Brasília, a convite do governo brasileiro, feito durante o encontro ocorrido em janeiro de 2007, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente iraniano participaram da posse de Rafael Correa, do Equador.


 


Ahmadinejad virá acompanhado de uma comitiva de cerca de 200 pessoas – entre elas 110 especialistas em diversas áreas econômicas, representando 65 empresas, além de instituições e ministérios, em 23 diferentes setores como o petróleo, gás, seguros, comércio, indústria alimentícia e pesquisa.


 


O atual embaixador do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, caracteriza este encontro como o início de uma nova etapa na relação entre os dois países, aproximação que deve ser encarada no contexto de uma nova ordenação mundial. Segundo ele, a fase do unilateralismo passou, e aquela nefasta política da era Bush vai dando lugar à idéia do multilateralismo, onde muitas potências emergentes vão se destacando, como o Brasil e o Irã.


 


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não gostou da visita e desperdiçou mais uma vez seu espaço na mídia nacional neste final de semana para dar um arremedo de pito no governo Lula por considerar inadequado receber o dirigente máximo iraniano após o discurso de Ahmadinejad em uma conferência mundial promovida pela ONU a respeito da questão do racismo.


 


O ''príncipe dos sociólogos'' não consegue ser coerente nem mesmo no espaço de meia página dos jornais dominicais. Procura elogiar os primeiros cem dias de exercício do governo Barack Obama, nos Estados Unidos – destacando inclusive a iniciativa americana de estabelecer conversações com o Irã (satanizado pelo governo anterior), abrindo novos canais no oriente Médio e procurando descongelar as relações com Cuba – e ao final do artigo critica o encontro dos presidentes do Brasil e do Irã.


O presidente do Irã não é, para dizer o mínimo, prudente com as palavras, e o governo brasileiro já manifestou seu desgosto com o discurso pronunciado por  Mahamoud Ahmadinejad.na abertura da conferência da ONU sobre o racismo. Pela forma contundente e pouco diplomática, e não pelo conteúdo das denúncias e do iníquo tratamento que o governo de Israel dispensa aos árabes e palestinos, que considera como racialmente inferiores.


 


Feita esta ressalva, é preciso dar relevo, contra os argumentos do ex-presidente, ao fato de que neste período de crescimento do unilateralismo, a cooperação sul-sul e entre países emergentes, como o Brasil e o Irã, são fundamentais para o fortalecimento dos respectivos mercados internos. Vários temas comuns poderão ser tratados como o combate à pobreza, o fortalecimento da justiça social e o combate ao novo tipo de colonialismo exercido pelas economias mais fortes do planeta. Estes objetivos se encaixam perfeitamente na atual política externa do governo brasileiro, determinado a desenvolver as relações do Brasil com a África, com o Oriente Médio e com os países da Ásia. Nesse sentido, seja bem-vindo, presidente Mahamoud Ahmadinejad.