Bolsonaro promove circo de horrores sobre a pandemia

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O evento “Encontro Brasil vencendo a Covid-19” promovido pelo presidente Jair Bolsonaro na segunda-feira (24) foi um show de hipocrisia, um circo de horrores. Até o nome foi uma farsa. Os números da pandemia se encarregam de comprovar essa constatação – mais de 115 mil mortes e mais de 3,5 milhões de positivados –, mas é preciso acrescentar que desse governo não se podia esperar algo diferente e que esse espetáculo hediondo não pode continuar.

Não havia como ser de outra maneira, uma vez que Bolsonaro sempre atuou para abrir caminho à livre propagação do coronavírus e para impedir qualquer ação que pudesse minorar os efeitos da pandemia. Seu menosprezo pela gravidade da situação, lançando epítetos como “gripezinha” e pregando a violação do isolamento social – mesmo com os já então conhecidos assustadores números de mortos e contaminados em outros países – desencadeou uma série de outras ações irresponsáveis e até criminosas.

Bolsonaro passou dos impropérios para a realidade quando tergiversou o quanto pôde para não aceitar medidas como o auxílio emergencial, o socorro às empresas mais vulneráveis e a ajuda aos estados e municípios, um comportamento inequívoco de que o combate à pandemia não faz parte da sua forma de governar. Tampouco faz parte do seu projeto de poder olhar para a economia com o sentimento de que o povo passa por uma situação dramática e que a hora é de ação firme para direcionar os recursos do Estado para essa urgência.

A gestão da economia está totalmente entregue aos grandes interesses financeiros. Nem medidas simples, meramente paliativas, no sentido de socorrer as urgências do povo são aceitas pela gestão da economia pelo ministro Paulo Guedes.

Em plena expansão da pandemia, o governo Bolsonaro adotou uma série de medidas para criar ainda mais dificuldades, como as medidas provisórias que liquidaram importantes direitos trabalhistas. Ao mesmo, Bolsonaro moveu uma guerra difamatória contra governadores e prefeitos que tomaram algumas medidas na direção oposta às criminosas ações do seu governo. Sem falar na sucessão de crises políticas, deliberadamente insufladas para forçar as fronteiras do Estado Democrático de Direito.

Com esse passado e com a irredutibilidade de Bolsonaro, pode-se concluir que o evento do dia 24 foi um desrespeito às vítimas da Covid-19. O mesmo desrespeito que ele manifestou quando recentemente usou palavras de baixo calão contra jornalistas e ameaçou agredir um deles. O desrespeito foi além, no evento de segunda-feira, quando o presidente promoveu mais um culto à cloroquina, sua panaceia contrária à Organização Mundial da Saúde (OMS), aos médicos, aos cientistas e até ao bom senso.

O resumo da ópera é que Bolsonaro voltou a ser o mesmo de sempre. Truculento, obtuso e provocador. Tudo isso compõe o seu enredo autoritário, a comprovação de que o seu objetivo de pisotear a legalidade democrática não é algo a ser subestimado. Não é possível conceber um país com alguma esperança de futuro, com condições básicas para atender às necessidades do povo, sem o fim do governo Bolsonaro.