Causas e consequências do crescimento da fome

Fome

O crescimento dos segmentos da população brasileira em situação de fome era absolutamente previsível. A crise econômica e os remédios amargos para salvar uns – os poderosos de sempre – às custas do empobrecimento de muitos estão à vista há muito tempo. A indiferença em relação a esse quadro de caos social, portanto, deve ser creditada a quem de direito, no caso os governos que adotaram a política macroeconômica que não têm entre seus objetivos reverter a profunda concentração de renda.

A receita é bem conhecida. Seus efeitos ficaram notórios pelos resultados do neoliberalismo da década de 1990, com muitos países moídos por índices vergonhosos de injustiças sociais, pela corrupção e pela violência social. A volta dessa velha ordem com a marcha golpista que impôs um programa de governo contra o povo e antinacional ganhou o reforço considerável da ortodoxia neoliberal e neocolonial do ministro da Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes.

O resultado está aí, agravado numa proporção enorme pela pandemia da Covid-19 e a opção do bolsonarismo por ignorá-la e por incitar sabotagens aos que se mobilizaram para enfrentá-la, sobretudo governadores e prefeitos. Nesse momento mesmo o próprio presidente da República está em ação cotidiana para promover o negacionismo do problema e da ciência, alimentando as motivações de motins e campanhas criminosas contra as medidas protetivas nas redes sociais e até em setores da mídia.

Esse é o cenário em que surge o novo auxílio emergencial, agora bem menor, depois de três meses em que os setores da população mais castigados pelas irresponsabilidades bolsonaristas ficaram praticamente sem renda. Além do sofrimento em decorrência de um direito humano fundamental, o da alimentação, a economia em geral pagou um alto preço. Os elevados índices de desemprego são o resultado mais perverso dessa política macroeconômica.

O caminho óbvio para enfrentar essa dura realidade passa, emergencialmente, pela imunização em massa. Sem essa medida, além da tragédia sanitária, a economia não terá como se recuperar. Mas é preciso, igualmente, enfrentar a orientação macroeconômica do governo Bolsonaro. Esses dois desafios compõem a base de uma agenda consequente para livrar o país das garras dos que representam a política ultraliberal e neocolonial, a responsável, em última instância, por essa inominável tragédia nacional.

Diante disso, duas questões surgem como essenciais. A primeira é a geração de emprego. E a segunda, a distribuição de renda. A escassez de emprego precisa ser atacada com a retomada do desenvolvimento econômico e ao mesmo tempo com a valorização do trabalho. A tarefa de estender a cidadania a todos os brasileiros não é só emergencial – é estratégica.