Celso Furtado – 100 anos de um homem que pensou o Brasil

Celso Furtado, que hoje completaria seu centenário, foi um intelectual e economista profundamente ligado ao Brasil, que estudou suas contradições e contribuiu para superá-las.

Ele ainda não tinha 40 anos de idade quando publicou, em 1959, seu livro mais conhecido, Formação Econômica do Brasil, que, seis décadas depois, continua extremamente atual. Escrito alguns anos antes, no período em que Furtado estudou em Cambridge, na Inglaterra, é um livro notável por vários aspectos, que o tornaram um clássico de leitura e estudo obrigatórios.

A própria escolha da palavra “formação” para seu título ajuda a entender a motivação do autor: diferentemente da palavra “história”, que localizaria a ação no passado, “formação” incorpora a dimensão histórica numa reflexão cujo mote é o presente, as contradições do Brasil de hoje, a compreensão das condições que o levaram a ser o que é.

Como intelectual e historiador da economia, Celso Furtado era assim – não fugia desafios do presente.

Sua carreira, desde sua graduação como economista em 1948, esteve sempre ligada à atividades públicas, ao esforço de contribuir para a superação do subdesenvolvimento, que compreendeu não como etapa no desenvolvimento das nações (como os economistas e intelectuais conservadores sempre entenderam), mas como resultado da divisão internacional do trabalho que beneficia os países do centro capitalista (Europa e EUA), em detrimento das nações de passado colonial.

A lista de seus cargos públicos para o planejamento da economia é extensa. Atuou na recém criada Comissão Econômica para a América Latina (Cepal); depois na Grupo Misto Cepal-BNDES, que teve importante papel no governo de Juscelino Kubitschek, que o apoiou na criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), em 1959; depois, quando João Goulart criou o ministério do Planejamento, em 1962, coube a ele ser o primeiro titular da nova pasta.

Na contramão da corrente dominante entre os economistas (quase sempre liberais e livre-cambistas, antepassados dos atuais neoliberais), Celso Furtado sempre defendeu o uso da força econômica, social e política do Estado para fomentar o desenvolvimento, com emprego e distribuição de renda para fortalecer o mercado interno como esteio econômico do desenvolvimento nacional.

Foi também um estudioso renovador da dominação imperialista que, aliada às oligarquias internas em países como o Brasil, tenta travar o desenvolvimento nacional. Oligarquias que, enquanto sócias internas e subalternas da dominação externa e, retardam o desenvolvimento nacional.

Neste 26 de julho, o Brasil comemora o centenário de Celso Furtado, um clássico do desenvolvimento nacional, cujas análises, esclarecendo as condições históricas do Brasil, ajudam a compreender as vicissitudes da dominação imperialista no mundo.

São palavras de uma voz que, calada pela morte aos 84 anos, em 2004, continuam válidas, descrevendo a situação atual em que permanecem, agravadas, as mesmas condições de atraso e dominação externa que ele ajudou – e continua ajudando – a combater.

Sua obra e suas realizações constituem um importante patrimônio científico nacional, sobretudo quando a nação brasileira se levanta para se livrar do desastroso governo Bolsonaro para que o país retome o caminho do desenvolvimento soberano.

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