Ceticismo mundial com a fala de Bolsonaro sobre meio ambiente

A área ambiental é uma das mais castigadas no governo Bolsonaro

O pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro no primeiro dia da Cúpula de Líderes sobre o Clima teve pouca relação com a realidade do país. Segundo ele, até 2050 o Brasil vai alcançar a neutralidade climática, com redução drástica das emissões de gases causadores do efeito estufa e com a adoção de medidas ambientais que compensem esse estrago. Bolsonaro também prometeu que o desmatamento ilegal terá um fim nos próximos nove anos.

O tom mais ameno em relação às ameaças recentes, como a de tirar o Brasil do Acordo de Paris, deixou dúvidas no ar. Principalmente porque até agora praticamente não existiram ações concretas para proteger a floresta, tanto que o desmatamento aumentou desde o início do governo, em 2019. Daí o ceticismo sobre o real compromisso de Bolsonaro com a proteção do meio ambiente.

É preciso recordar que Bolsonaro se elegeu falando sistematicamente contra as entidades ambientalistas e as reservas indígenas, ao mesmo tempo que defendia a mineração na região. Seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, se notabilizou ao falar numa reunião de gabinete do governo que se poderia aproveitar a pandemia do coronavírus e a distração midiática para atropelar a legislação ambiental, a famosa frase sobre passar a boiada.

Também é bom lembrar que na semana passada ele foi denunciado por um investigador da Polícia Federal do Amazonas por colaborar com o desmatamento. Logo após, o denunciante foi demitido. Há ainda o fato de que agências ambientais como o Ibama e a ICMBio passam por uma crise de falta de recursos e de profissionais, com militares em posições técnicas.

Somente neste ano, o Ibama perdeu 4% em corte de verba. No caso do ICMBio, a redução foi ainda mais drástica, cerca de 12%. Ambos são órgãos responsáveis pelo trabalho de preservação ambiental no país. No ano passado também houve um bloqueio financeiro de aproximadamente R$ 60 milhões que seriam destinados ao Ibama (R$ 20,9 milhões) e ao ICMBio (R$ 39,7 milhões).

Em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, os recursos para iniciativas de implementação da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) tiveram um corte de R$ 11,2 milhões, o equivalente a 95% de corte no orçamento. A diminuição dos recursos foi resultado do contingenciamento de R$ 187 milhões no Ministério do Meio Ambiente (MMA), após o decreto n° 9741 em março de 2019.

Quanto aos dados de desmatamento na Amazônia, foram 11.088 km2 desmatados entre janeiro e novembro de 2020, a maior área registrada nos últimos 12 anos. Houve crescimento de 9,5% em relação a 2019, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão federal que monitora a devastação nos biomas brasileiros por meio de satélites.  A devastação alcançou índice 70% maior do que a média registrada entre 2009 a 2018. Para cumprir a meta da PNMC, o país precisaria ter um teto de desmatamento em 3.925 km2 este ano. O total registrado é 180% superior.

Como comentou o governador do estado do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), o presidente brasileiro ficou no fim da fila dos líderes a discursar. E o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, não ficou para ouvi-lo. “Ou seja: a esdrúxula diplomacia do Brasil como ‘pária mundial’ foi bem-sucedida. Lamento muito. Haveremos de recuperar o nosso protagonismo global”, analisou. O Brasil precisa recuperar seu protagonismo e não será com Bolsonaro.