Bolsonaro aprofunda o atoleiro na economia

Não são poucas as consequências do pífio crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 1,1% em 2019. Depois do mergulho na recessão iniciada em 2014, que se estendeu até 2016, o que se viu foi a economia patinando, quase sem sair do lugar. As causas dessa tragédia social são múltiplas, mas o determinante é o programa de governo adotado desde o início do processo do golpe do impeachment, em 2016.

 Da Revolução de 1930 até o início dos anos 1980, o país conheceu um longo período de crescimento. A seguir, se sucederam as chamadas duas décadas perdidas. Nos governos Lula e Dilma houve tentativas, com relativo êxito, de recolocar o país no caminho do desenvolvimento. Novos problemas começaram a surgir entre o terceiro trimestre de 2013 e o último trimestre de 2014, com a desaceleração puxada pela queda na taxa de investimento.

 Num quadro de agonia da economia global, iniciada com o pico da crise estrutural do capitalismo de 2007-2008, as alavancas do Estado deveriam ser posicionadas na direção da aceleração dos investimentos e não de sua retração. O caso mais emblemático foi o da Petrobras, frontalmente atingida pelas farsas da Operação Lava Jato, que apresentou sucessivas quedas de investimento a partir de 2013.

 A tendência de desaceleração dos investimentos se acentuou em 2015, quando o governo optou por um choque recessivo ao lançar mão de um conjunto de políticas de “austeridade”. O país voltou a ouvir, na gestão de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda do governo Dilma Rousseff, absurdos como a tese do mercado de trabalho sobreaquecido gerando desequilíbrios, jogando a conta da crise nas costas de quem vive de salário.

 Os golpistas de 2016 e o governo Bolsonaro impuseram uma pauta ultraneoliberal e neocolonial. O resultado acaba de ser divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o medíocre crescimento de 1,1% em 2019. Numa perspectiva de uma economia com soberania nacional, a grave situação internacional deveria impulsionar o Estado a acelerar os investimentos, não reduzi-lo a praticamente zero.

 O país precisa ver sempre a luz no fim do túnel das adversidades a que está exposto. Caso contrário, tudo escurece e fica impossível caminhar na direção certa. Desde que o poderoso e inovador modo de produção baseado na indústria e no comércio – o capitalismo – chegou por aqui, ainda no século XIX, o desenvolvimento e o progresso social só ocorreram quando o Estado tomou para si a responsabilidade de impulsionar a economia.

 Foi assim que o país deu respostas a outras crises globais, como a sinistra depressão anterior à Segunda Guerra Mundial, proporcionando saltos industriais e civilizatórios. O abandono desse projeto se deu exatamente quando as crises do sistema, puxadas pela dinâmica do seu centro, a economia norte-americana, se acentuaram.

 Após o fim da chamada “Era de Ouro” que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, o capitalismo adquiriu uma nova face, marcada por crescimento econômico lento, por excesso de capital e por uma montanha de dívidas. A grande capacidade de produção norte-americana proporcionada pela Segunda Revolução Industrial – que dotou o país de uma poderosa e inovadora indústria — perdeu vigor.

 A irracionalidade econômica do sistema manifesta-se também na política. Sem resposta para as suas contradições, ele abre caminho para demagogos e falsos milagreiros, como o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia Paulo Guedes. Sem condições de sequer administrar a crise, só possível num ambiente arejado pelo debate de ideias, eles apelam para o autoritarismo que destrói a democracia.