Crise política e agenda positiva

A cada pesquisa que atesta as dificuldades de vôo do candidato tucano, a direita neoliberal fica ainda mais descontrolada e parte para a baixaria. No episódio da Bolívia, ela revelou toda sua subserviência diante do império e achincalhou a política externa do governo Lula. Já a mídia hegemônica reforçou o coro da elite entreguista. Num gesto desrespeitoso, que fere a democracia, a abjeta revista Veja estampou na capa um presidente com a marca de um chute no traseiro e ainda o chamou de “bobo da corte”. Já uma articulista da TV Globo sugeriu a retirada do embaixador brasileiro da Bolívia e exigiu “o imediato envio de tropas para a fronteira”. Tanta valentia diante das nações frágeis e tanta covardia frente às potencias capitalista!

 

No mesmo rumo da radicalização política, a direita neoliberal procura agora requentar denúncias contra o governo Lula. Até uma pessoa que confessou estar com problemas mentais é convocada novamente para “depor” na CPI dos Bingos, que na verdade se tornou um Tribunal da Inquisição – um comando paralelo de desestabilização do governo. Quanto às denúncias dos sanguessugas, que envolvem vários políticos do bloco liberal-conservador, a direita hipócrita e sua mídia venal fazem de tudo para abafar o caso. Ambos episódios confirmam que a campanha sucessória deste ano será pura nitroglicerina. A direita não recuará no seu intento da vingança maligna e usará dos expedientes mais sujos para atingir esse objetivo.

 

Diante deste cenário inflamável, chama a atenção a postura altiva do presidente Lula. Diferentemente do que ocorreu no ano passado, quando o governo ficou acuado, agora ele parte para ofensiva para viabilizar uma agenda positiva de mudanças no país. Isto já ficou patente na refrega do salário mínimo. A ortodoxia econômica da ex-equipe do ex-ministro Palocci foi derrotada na ocasião, com a fixação do maior reajuste dos últimos anos, a antecipação do mínimo e a correção da tabela do Imposto de Renda. Na seqüência, na queda do ministro orquestrada pelos mesmos que o bajulavam, o presidente optou por uma equipe mais desenvolvimentista, contrapondo-se à pressão do “deus-mercado” que exigia a posse de outro serviçal.

 

O governo Lula também concedeu aumento real para as aposentadorias, que estavam congeladas há quase dez anos, anunciou medidas para legalizar a posse de moradias ocupadas e elevou o repasse para o Bolsa Família – só para citar outras medidas desta agenda positiva. Agora, ele anuncia a legalização das centrais sindicais, a criação do Conselho Nacional de Relações do Trabalho e a regulamentação das cooperativas. A legalização tem forte simbolismo, já que as centrais nunca foram reconhecidas na história do Brasil; já a regulamentação limita farra das coopergatos, que hoje exploram 6 milhões de brasileiros. Por ironia da história, a crise política fabricada pela direita tem empurrado o governo para posturas mais avançadas.