Crueldade de Bolsonaro: cortar pela metade a ajuda aos pobres

População forma fila em frente a Caixa Econômica de Recife à espera de auxilio emergencial

A afirmação do presidente Jair Bolsonaro de que vetará a ampliação do auxílio emergencial em R$ 600 caso ela seja aprovada pelo Congresso Nacional é uma afronta ao país. Para ele, o ideal seria reduzir a quantia pela metade, o que, afirma cinicamente, evitaria a quebra do país, com “uma dívida cada vez mais impagável”.

Repetindo o ministro da Economia, Paulo Guedes, como um papagaio, Bolsonaro afirmou também que a manutenção do valor de R$ 600 geraria um impacto adicional de R$ 100 bilhões nas contas públicas – para se ter uma ideia, os serviços da dívida consomem mais de R$ 400 bilhões por ano.

A consequência, de acordo como o diagnóstico catastrofista de Bolsonaro, seria a subida da taxa de juros Selic, fazendo o país voltar “a ser o paraíso dos rentistas”, a “agiotagem legalizada”. Fazendo jus à sua proverbial ignorância sobre economia, Bolsonaro também disse que com a subida dos juros tudo o que é produzido “de riqueza vai pra pagar juros da dívida”. “Ou seja, e a desgraça vem aí. Se o Brasil quebrar, pessoal, não tem para ninguém”, afirmou.

Há poucos dias, durante a reunião ministerial, Guedes confirmou que o auxílio emergencial seria mantido por mais dois meses, mas com valor reduzido pela metade. Bolsonaro, numa de suas típicas provocações irresponsáveis, disse que podia aumentar o valor se deputados e senadores aceitassem reduzir os próprios salários, como compensação.

Essa combinação de má-fé cínica com obtusidade córnea revela a essência desse governo. O cinismo de Bolsonaro e Guedes não oculta o programa de governo escancaradamente neocolonial e ultraliberal, essencialmente entreguista e parasitário. A tese de que os juros caíram por decisão política ou programática do governo não tem nenhuma sustentação.

Não há, em nenhuma passagem do programa de governo bolsonarista ou ação de Guedes e do presidente algo que possa ser considerado como projeto para reduzir os juros e conter a ciranda da dívida pública. Tampouco há um traço sequer de que o orçamento e o patrimônio públicos podem ser utilizados para socorrer as urgências sociais e infraestruturais do país. A queda dos juros tem como única causa a debacle econômica mundial, que no Brasil se agravou enormemente com esse programa bolsonarista.

O auxílio emergencial, lançado em abril para garantir renda mínima aos desempregados e informais de baixa renda durante a pandemia da Covid-19, é o mínimo que o Estado pode fazer nesse momento crítico. As alegações cínicas de Bolsonaro e Guedes são na verdade manifestação de profundo desprezo pelo povo.

Os gastos com este e outros programas emergenciais – como o socorro aos estados e municípios e às micro, pequenas e médias empresas – são gotas no oceano de despesas com a impagável dívida pública que gira o cassino financeiro. Esse é o motivo verdadeiro para as atitudes criminosas de Bolsonaro ao protelar o cumprimento das leis emergenciais aprovadas no Congresso Nacional.

Os dados que mostram dez milhões de pessoas sem respostas aos pedidos do auxílio emergencial e outros muitos que receberam pela metade caracterizam essa conduta de Bolsonaro como criminosa. Com ela, essa parcela da população foi empurrada para o risco de contaminação em busca do “pão de cada dia”. O que Bolsonaro quer, agora, é engrossar essa massa desesperada pela fome, fomentar o caos social, agravar a crise política e apresentar como solução um Estado arbitrário.