Cuba na lista de países “terroristas” atenta contra o direito internacional

Eua Cuba

A qualificação de Cuba como Estado patrocinador do “terrorismo”, anunciada pelo governo dos Estados Unidos, diz mais respeito a quem acusa do que a quem é acusado. Um mínimo de bom senso leva à conclusão de que não há a menor possibilidade de alguma verdade nas alegações do secretário de Estado norte-americano, Michael Pompeo, o porta-voz do anúncio. O único motivo para essa truculência é a guerra ideológica da Casa Branca, pela via econômica e midiática – e até terrorista –, que existe praticamente desde que os revolucionários liderados por Fidel Castro puseram fim ao governo fantoche norte-americano de Fulgêncio Batista e assumiram o poder, em 1959.

A verborragia agressiva de Pompeo, que, segundo a agência France-Presse (AFP), declarou que Cuba apoia “repetidamente atos de terrorismo internacional ao dar refúgio a terroristas”, tenta escamotear as reais causas dessa atitude. O mesmo acontece em relação ao Irã, à República Popular Democrática da Coreia e à Síria, países integrantes da lista infame do governo dos Estados Unidos. No caso de Cuba, Pompeo alega casos de norte-americanos a quem Havana concedeu asilo, incluindo um militante negro condenado na década de 1970.

Além do estatuto de refugiado político, os fugitivos norte-americanos receberam alojamento gratuito, cuidados de saúde e outros benefícios por parte de Cuba. Os Estados Unidos, por sua vez, têm a conhecida prática de incitar a imigração cubana para o seu território com a finalidade de fazer proselitismo político e ideológico. São famosos os casos em que cubanos são exibidos na mídia com tratamento bem diferente de outros imigrantes, num claro movimento de propagação de infâmias contra a Revolução Cubana.

A Casa Branca chegou a adotar a política de “pés secos, pés molhados” – a Lei de Ajuste Cubano, de 1966 –, que dava a praticamente todos os cubanos que chegavam ao território norte-americano o direito de ficar no país, ainda que tivessem chegado de forma ilegal. Sem falar no programa que incentivava médicos cubanos a abandonar seu país. Esses são casos conhecidos, mas existem muitos outros recursos para incentivar a imigração cubana, todos ilegais perante o direito internacional, práticas que violam grosseiramente as normas de convivência pacífica entre as nações. Os Estados Unidos patrocinaram 638 tentativas de assassinar Fidel Castro, além de apoiar ações terroristas em hotéis que hospedavam turistas estrangeiros para tentar desestruturar a economia cubana.

Esse conjunto de atitudes formam a base da propaganda ideológica contra Cuba, que serve também para outros países que não seguem os ditames de Washington. É a mesma premissa das hostilidades anticomunistas e contra a soberania dos povos que marcaram o século XX. Após o triunfo da civilização contra a barbárie nazifascista na Segunda Guerra Mundial, uma nova ordem imperialista se impôs tendo como epicentro o Estado norte-americano. Em nome dela, verdadeiros banhos de sangue foram dados em várias partes do mundo, em especial na Ásia, na América Latina e no Oriente Médio.

Cuba é hostilizada de forma agressiva até hoje por se interpor no caminho da dominação plena da ordem da Casa Branca na América Latina. A Revolução emergiu na contramão da cadeia de golpes sangrentos pró-Estados Unidos na região. Em muitos países – sobretudo os do chamado Cone Sul –, os processos foram similares aos que aconteceram na Ásia, em especial na Coreia e no Vietnã. Na década de 1960, a tomada do poder pelo presidente Suharto na Indonésia foi a apoteose de um banho de sangue anticomunista que dizimou meio milhão de pessoas. Com a bênção de Washington, o regime de Suharto sobreviveu até recentemente.

Essa ação contra Cuba merece o firme repúdio de todo o pensamento progressista e democrático mundial. Ela é contra a humanidade, à medida que atenta contra direitos básicos da civilização. E retrata um tempo histórico, simbolizado pela bestialidade como forma de governo, a essência da barbárie no lugar do direito internacional. Corresponde à ascensão das ideias da extrema direita, bem conhecidas no Brasil pelas práticas do governo Bolsonaro. Como toda ideia de caráter fascista, serve de alerta para a necessidade se somar forças para enfrentá-la, nos planos político e das ideias.