Eleições: o tamanho do fator São Paulo

Vistas pelo gabarito nacional, as eleições que ocorrerão daqui a três domingos parecem um passeio do PT e outros partidos […]

Vistas pelo gabarito nacional, as eleições que ocorrerão daqui a três domingos parecem um passeio do PT e outros partidos da base do governo Lula. Uma grande incógnita permanece, a inquietar o campo de Lula e esperançar a oposição: São Paulo.


 


Uma eloqüente tabela das pesquisas eleitorais nas 26 capitais de estado, publicada pelo Correio Brasiliense, fotografou este cenário na semana passada (http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=42898). Em capitais como o Rio de Janeiro (2º maior eleitorado), Belo Horizonte (3º) e Porto Alegre (9º), os três candidatos melhor colocados nas pesquisas são da base do presidente – ainda que se deva duvidar do ardentemente proclamado lulismo de gente como o ex-tucano carioca Eduardo Paes (PMDB).


 


Dos partidos de oposição, o PSDB aparecia como favorito em três capitais: Curitiba (o 6º maior eleitorado), São Luís (12º) e Teresina (16º); permanecia na disputa em Salvador (4º eleitorado) e Cuiabá (18º). O DEM, pior, não figurava como favorito em nenhuma capital; disputava Salvador (4º), Fortaleza (5º) e Belém (10º). PPS e Psol não figuravam com chances em nenhuma capital.


 


Na semana que se seguiu, as últimas pesquisas complicaram ainda mais a cena oposicionista. Em Salvador, a disputa que era entre o DEM ''carlista'' e o PSDB embolou-se com a ascensão dos candidatos do PMDB e PT; há empate triplo no segundo lugar e o segundo turno tornou-se imprevisível. Já em Fortaleza, um movimento inverso pôs a prefeita do PT isolada em primeiro nas três pesquisas da semana, com o dobro das intenções de voto do candidato do DEM.


 


Também em São Paulo a chapa de Lula – Marta Suplicy-Aldo Rebelo, PT-PCdoB – está bem na foto, com 40%, contra 22% de Geraldo Alckmin, do PSDB, que está em gradativa queda, e 18% do prefeito Gilberto Kassab, do DEM, em lenta ascensão (números do Datafolha deste fim de semana). Essa vantagem tende a crescer na medida em que os conservadores rivais se engalfinhem entre si para ver quem chega no segundo turno. Mas poderia ser neutralizada no caso – que não pode ser descartado a priori – de uma soma dos votos conservadores, que incluem ainda os 8% de Paulo Maluf (PP).


 


A chapa Marta-Aldo beneficia-se da até agora insanável fratura do campo conservador. Conta com o pico do prestígio de Lula (e o presidente, sabedor do que está em jogo, engajou-se pessoalmente na contenda paulistana). Marta tira partido de sua passagem pela Prefeitura (2001-2004), bem avaliada pelos paulistanos. Faz uma campanha eficaz, desde a TV até o trabalho inovador de perto de mil ''visitadores'' de casa em casa.


 


Mas vale lembrar que a escolha à direita prevaleceu no eleitorado paulistano em ambos os turnos das eleições de 2004 e 2006, ainda que o inverso tenha ocorrido em 2000 e 2002. Social, política e ideologicamente, o maior colégio eleitoral do país (8,2 milhões de eleitores, mais que a soma do Rio, BH e Salvador, que se seguem no
ranking) tem sido arena de uma equilibrada disputa.


 


O exemplo mais contundente é o de 1985, primeira eleição nas capitais após o fim da ditadura. O PMDB venceu em 18 e outras legendas antiditatoriais em cinco das 25 das capitais. Em São Paulo o candidato peemedebista (Fernando Henrique Cardoso, quem diria) liderou todas as pesquisas, inclusive a de boca de urna, e chegou a tirar fotos sentado na cadeira de prefeito. Contados os votos, o conservador ex-presidente Jânio Quadros (PTB) bateu FHC por 3,3% de vantagem. E foi o que bastou: o contrapeso paulistano entortou para a direita a conduta do governo federal e todo o quadro político brasileiro da época.


 


Uma geração mais tarde, a oposição conservadora tenta em São Paulo, com Alckmin ou Kassab, repetir 1985 e ao menos empanar a festa de Lula. As urnas de outubro dirão se logrará a façanha.