EUA contra o Irã: desconstruindo o caminho da paz

Um resultado as diplomacias brasileira e turca já conseguiram: ao chegar a um acordo com o Irã sobre a questão […]

Um resultado as diplomacias brasileira e turca já conseguiram: ao chegar a um acordo com o Irã sobre a questão nuclear, elas criaram as condições em que o imperialismo norte-americano foi forçado a rasgar a fantasia e expor com clareza seus objetivos arbitrários e guerreiros nas investidas contra o governo de Teerã. Na tarde de quarta-feira (dia 19), o Conselho de Segurança da ONU se reuniu para examinar a nova proposta feita por Washington de sanções contra o Irã, com a clara determinação de jogar no lixo o acordo concretizado dia 17 entre Brasil, Turquia e Irã.

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, foi explícita. O anúncio daquilo que chamou “um consenso” em torno da proposta estadunidense de sanções contra o Irã, disse ela, “é a resposta mais convincente aos esforços ocorridos em Teerã nos últimos dias que poderíamos dar”.

A disposição guerreira dos EUA se manifesta nos inúmeros pretextos levantados contra o acordo entre Brasil, Turquia e Irã onde há, segundo ela, “questões que não foram respondidas”. E ameaça: uma “resolução com sanções mais fortes que vai, sob nossa ótica, enviar uma mensagem clara a respeito do que esperamos do Irã".

É um recado claro: desrespeitando a soberania das nações, só há um caminho para o Irã, e ele é a aceitação pura, simples e integral das imposições norte-americanas. Sem isso não há acordo nem negociação.

As negociações iniciadas no Conselho de Segurança na quarta-feira não serão fáceis nem seus resultados imediatos. A previsão é de que elas levem semanas, e há fundamentos para a crença de que serão semanas tensas.

A resposta conjunta turco-brasileira para a ofensiva dos EUA e das grandes potências veio na forma de uma carta enviada à ONU onde insistem no caminho da negociação e da construção da paz e reiteram a vontade de continuar nas negociações, no sentido de "evitar que sejam tomadas medidas prejudiciais a uma solução pacífica para a questão do programa nuclear", e manifestando a " total confiança de que as cinco potências vão revisar a declaração conjunta com uma visão para abrir caminho, considerando questões relacionadas ao programa nuclear iraniano e coisas mais amplas de preocupação mútua, por meio do diálogo construtivo". Caso contrário, como disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as negociações com o Irã poderão "voltar à estaca zero".

É uma perspectiva sombria que a diplomacia brasileira se recusa a aceitar. O ministro de Relações Exteriores defende com veemência o acordo obtido com o Irã no dia 17 dizendo que “aqueles que desprezarem o acordo por meio de sanções terão de arcar, assumirem outras responsabilidades. Nós assumiremos as nossas”, afirmou. Em sua opinião, desprezar aquele seria "ignorar uma atitude pacífica", opção antiguerreira que enfatizou ao dizer que não acha “positivo ficar fazendo ameaças”.

A diplomacia brasileira demonstrou que o caminho da paz e do respeito mútuo entre as nações é viável e pode ser trilhado se houver disposição para isso. Mas não é a via aceita pelas grandes potências, com os EUA à frente pois ele pode ser a confirmação prática, e notória, da mudança de status quo no mundo, sendo mais um passo na corrosão do poderio anacrônico do imperialismo. É um jogo pesado e ameaçador para os povos.

É previsível que o imperialismo resista, repetindo velhas ameaças. E, num lance para resguardar sua hegemonia, age para descontruir o caminho da paz.