Europa: crescimento da direita acende luz amarela

O resultado da eleição para o Parlamento Europeu, realizada domingo (7), acende uma luz amarela para a esquerda. É uma advertência sobre os riscos que surgem no horizonte político, acentuados pela grave crise econômica que faz estragos enormes no continente e coloca em xeque a expressão principal do neoliberalismo, a União Europeia. Ela foi concretizada sob a égide do Tratado de Maastricht, de 1992, que impôs severas limitações à soberania das nações e pesado ônus para o povo, favorecendo o grande capital. Impôs, por exemplo, limites de 3% do PIB para os déficits orçamentários e estabeleceu que a dívida pública de cada país não pode passar de 60% do PIB, colocando obstáculos para a manutenção de programas sociais, de manutenção da renda dos trabalhadores e da capacidade de investimento dos governos. A crise econômica piorou esse quadro, recolocando para o povo de cada país a urgência da defesa da soberania de suas nações.


 


Este é um ponto sensível na realidade europeia, e que os resultados da eleição de domingo põem à mostra. A esquerda comemora crescimento em vários países. Um exemplo é Portugal, onde o Bloco de Esquerda (BE) e a Coligação Democrática Unitária (CDU, ligada ao Partido Comunista Português) tiveram juntos mais de 20% dos votos no país; o Bloco de Esquerda elegeu três deputados (tinha um), e a CDU  manteve os dois que tinha. O Partido da Esquerda Europeia também cresceu, formando uma bancada de 23 deputados (incluindo os cinco eleitos pelo Partido Comunista da Boêmia e Morávia (Tchecoslováquia), pelo grego Synaspismos, e pela Izquierda Unida, da Espanha). Na Grécia, Pasok (socialista) teve 39,5% dos votos, dando uma surra na conservadora Nova Democracia, que está no governo e teve 33%; os comunistas mantiveram os 10% dos votos que alcançaram na última eleição.


 


São avanços reais, que não anulam os ganhos notáveis da direita e da extrema direita, particularmente na Alemanha, no Reino Unido, na França e na Itália, e que lhe darão a maioria nesta legislatura. Juntas, com quase 56% dos votos (o resultado ainda não é definitivo), chegaram a uma maioria folgada e, assim, ao controle do Parlamento Europeu.


 


O resultado da eleição de domingo é um retrato da emergência, e crescente importância, da questão nacional, fragilizada sob a globalização neoliberal. Da mesma forma como na grande crise anterior, a de 1929-1933, a guinada à direita na Europa insinua-se como a atitude defensiva das populações nacionais contra o agravamento, pela crise, dos efeitos maléficos da globalização. Nesse quadro a direita prospera com seu programa xenófobo e anti-imigrante; crescem também os críticos da União Europeia, os chamados ''eurocéticos''.


 


Este é o sentido do sinal amarelo emitido pelo resultado da votação europeia de domingo – a questão nacional e a defesa da soberania dos povos volta para o centro das preocupações políticas. E ela precisa ser respondida pela esquerda, sob o risco do vácuo ser ocupado pela direita.