Fuga de capitais e o fracasso econômico de Bolsonaro
Um país sem credibilidade. A constatação transcende os limites dos que nunca tiveram motivos para acreditar nas promessas de Bolsonaro […]
Publicado 07/10/2020 20:22 | Editado 07/10/2020 20:23
Um país sem credibilidade. A constatação transcende os limites dos que nunca tiveram motivos para acreditar nas promessas de Bolsonaro e sua equipe e chega ao cerne do que seria a sua viga mestra, o mercado financeiro. A prova são os fluxos de capitais de dentro para fora do país e a corrosão do saldo da conta corrente do balanço de pagamentos, uma tendência que vem de 2019.
Essa conta reflete a relação do Brasil com outros países nas áreas comercial (exportações menos importações), de serviços (receitas e despesas com viagens, seguros e aluguel de equipamentos, entre outros itens) e de rendas (pagamentos de juros e remessas de lucros, entre outras operações). Segundo o Banco Central (BC), o saldo com o exterior foi de US$ 59 bilhões no ano passado, o maior rombo anual desde 2015, quando a conta ficou negativa em US$ 54,472 bilhões.
Para 2020, o saldo deve ficar em US$ 11 bilhões. A queda brusca está prevista em meio a uma fuga de capitais em volumes nunca vistos, que reflete o fracasso econômico de Bolsonaro. Pesa a crise econômica global, agravada com a pandemia, mas a crescente desconfiança no governo é um fator de grande relevância. Além da piora da imagem do país no exterior, sobretudo com o descaso governamental em relação ao desmatamento e às queimadas na Amazônia e no Pantanal, é grande a incerteza quanto ao rumo da economia brasileira.
De acordo com o BC, até agosto a saída líquida somou US$ 15,2 bilhões neste ano, o maior volume para o período desde 1982, início da série histórica do fluxo de câmbio. O relatório revela uma saída líquida recorde de US$ 28,3 bilhões de investimentos estrangeiros em carteira, dos quais US$ 19,5 bilhões em ações e US$ 8,8 bilhões em títulos de dívida. Há ainda a retração nos investimentos diretos, que somaram US$ 22,8 bilhões no primeiro semestre, uma queda de 27% em comparação com o mesmo período de 2019.
Esse mar de incertezas levou o presidente Jair Bolsonaro a reafirmar que o ministro da Economia, Paulo Guedes, é o “cara da política econômica”, com “99,9% de sua confiança”, e que “a palavra final é dele, ponto final”. Apesar dos atritos internos por conta do financiamento do programa Renda Cidadã, Bolsonaro se fia em seu ministro da Economia porque sabe que sem ele essa tendência de aumento da desconfiança no governo vai se acentuar.
O presidente vem dando mostras sucessivas de que não está à altura do cargo que ocupa, inclusive para o mercado financeiro. Suas declarações irresponsáveis e suas condutas desastrosas se chocam inclusive com quem estaria interessado em trazer investimentos pesados, conforme as promessas de Guedes. Óbvio que havia a fantasia eleitoreira da campanha, mas esse viés de investimentos poderia ser incentivado com o Estado direcionando suas alavancas para o rumo da retomada do crescimento.