Hora de gritar contra os juros do Copom

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que reúne uma casta de nove tecnocratas, na maioria de ex-executivos de poderosos bancos, como o próprio presidente Henrique Meirelles, e que, de fato, manda na economia nacional, parece ter pesadelos com as recentes notícias sobre o crescimento da produção industrial e do comércio. Daí a sua obsessão doentia em travar o desenvolvimento, conspirando contra o próprio PAC do governo Lula. Na sua última reunião deste ano, na quarta-feira (5), ele decidiu, novamente por unanimidade, manter a taxa básica de juros, a Selic, em 11,25%. Num comunicado lacônico à imprensa, ainda deixou implícito que novas reduções dos juros somente deverão ocorrer em meados do próximo ano.



Em decorrência desta orientação ortodoxa, nitidamente neoliberal, o país continuará pagando as maiores taxas de juros do planeta – numa disputa apertada com a Turquia – e atraindo capital especulativo, bem ao gosto da ditadura financeira. Como efeito, cresce o serviço da dívida interna, o que inibe os investimentos do governo, inclusive nas obras de infra-estrutura do PAC, e contém-se o crescimento da produção e comércio, o que inibe a geração de empregos e renda. Ganham os banqueiros e as 20 mil famílias de rentistas; perdem o Estado, os setores produtivos e os trabalhadores. Essa lógica destrutiva não leva em conta nem os dados – como a inflação sob controle e a menor vulnerabilidade do Brasil diante da crise hipotecária dos EUA.



A decisão é meramente política e serve aos interesses da capital financeiro. Não é para menos que os agentes dos banqueiros comemoraram mais esta decisão fundamentalista do Copom. O Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef) chegou a ''sugerir'' que um novo corte dos juros ocorra somente a partir de junho de 2008, ''de forma suave''. Já a Associação Nacional das Instituições de Crédito (Acrefi) elogiou o ''equilíbrio'' do BC. ''É necessário que a autoridade monetária siga verificando o andamento da economia sem mexer na taxa de juros. Qualquer movimento agora de queda da taxa poderia gerar algum repique da inflação. O momento é de cautela'', afirma. Numa nota assinada em conjunto com o Sindicato das Financeiras, a Acrefi sugere ainda que ''a política monetária siga os mesmos moldes em 2008, não se rendendo a qualquer tipo de apelo populista''.



No extremo oposto, as entidades de trabalhadores e algumas empresariais condenaram o conservadorismo do Copom. A Federação do Comércio de São Paulo, que estava toda animada com as possibilidades do aumento das vendas, bateu duro. ''Quando o Copom interrompeu a ciclo de reduções da taxa básica na reunião anterior, tivemos a esperança de que fosse um episódio isolado. Lamentavelmente para o setor produtivo, o erro se repete e terá reflexos negativos sobre as perspectivas de crescimento da economia em 2008'', chiou Abram Szajman, presidente da Fecomércio. Para ele, a redução da Selic, além de beneficiar a produção e o comércio, seria importante para ''aliviar o caixa do governo, que poderia usar a folga para realizar novos investimentos e reduzir a dívida pública. Também por isto, a decisão do Copom é incompreensível e injustificável''.



A choradeira pelos cantos, porém, tem se mostrado infrutífera. Enquanto não houver uma forte gritaria dos trabalhadores e do chamado setor produtivo, que pressione o governo Lula, a ditadura financeira continuará mandando no Banco Central e na economia brasileira. Cada reunião do Copom será motivo de festa para os banqueiros e de frustração para os milhões que dependem da produção, do emprego e da renda.