Irresponsabilidade de Bolsonaro derruba investimento estrangeiro

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A informação da Conferência das Nações para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad) de que o Investimento Direto Estrangeiro (IED) no Brasil caiu 62% em 2020 de certa forma era previsível. O descontrole da pandemia e as ações irresponsáveis do governo Bolsonaro são os principais responsáveis. Não há outra explicação para o contraste entre esse dado e a queda global, de 35%. Na América Latina e Caribe, a debacle brasileira ficou acima da média, o que levou o país a cair da 6ª posição mundial em 2019 para a 11ª em 2020.

O avanço descontrolado da pandemia conta muito, mas o decisivo é a opção por uma política econômica contracionista. Além de empurrar vastos contingentes populacionais para o abismo social, a quebra de empresas em grande escala criou em todas as regiões do país áreas necrosadas, com instalações abandonadas ou ocupados para outros fins teoricamente não econômicos. Levas de desempregados perambulam pelas ruas sem perspectivas, contribuindo para elevar os estratosféricos índices de criminalidade.

Os grupos que seriam aliados potenciais do IED estão esmagados pela queda no consumo interno, resultado do descontrole da pandemia e do alto índice de desemprego. Os que podem mais aumentam seus capitais do circuito de acumulação financeira, via mercado de títulos públicos – um monumental parasitismo do Estado, totalmente amordaçado pelo projeto neoliberal comandado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, sumidouro de recursos, riquezas e patrimônio da nação –, potencializando a crise.

Com o Estado imobilizado por essa política, o país se afunda na degradação social, perde o horizonte da recuperação econômica e enfraquece sua soberania. O sistema de brutal transferência de recursos da periferia para o centro – remessas de lucros, pagamentos de juros, troca desigual etc. – limita o Brasil a exportação de produtos primários e submete o Estado aos ditames dos grandes bancos que dominam os mercados de empréstimos de curto prazo.

A desaceleração das economias centrais – principalmente a norte-americana – no pós-pico da crise em 2007-2008 impõe o desenvolvimento econômico como condição básica para os países da periferia. O declínio prolongado do crescimento do produto global, contudo, acirra a competição pelos mercados, o que se traduz, em muitos casos, em ofensivas políticas e sobretudo bélicas. As crescentes hostilidades dos Estados Unidos à China é um retrato nítido dessa realidade.

A queda no IED no Brasil é reflexo dessa diretriz neoliberal que faz o Estado se imobilizar para investimentos no fomento da produção e em políticas públicas, submetido à imposição dos interesses financeiros que engolfam e determina o rumo político a ser seguido.

A verdade é o país chegou, a mais uma grande esquina histórica. Sua capacidade produtiva está entre a pressão da crise mundial do capitalismo com suas montanhas de dívidas – que cobra seus juros e encargos às custas de enormes sacrifícios dos povos – e as potencialidades do desenvolvimento nacional. É sobre essa segunda opção que aqueles cuja visão do futuro não está confinada ao pensamento neoliberal devem fixar suas lutas e esperanças.