Kassab, Serra e 2010: já ganhou?

Apoiadas na reeleição de Gilberto Kassab (DEM) em São Paulo, as classes dominantes e sua mídia aplaudem o governador tucano José Serra como o grande vencedor de 2008 e o seu candidato presidencial em 2010. Seu entusiasmo beira o delírio.


 


Até a compostura foi-se. Ninguém mais guarda as aparências segundo as quais o candidato de Serra, de anel no dedo e papel passado, era Geraldo Alckmin, Kassab era ''o outro'', e a maior cidade eleger prefeito do PSDB foi São Luís do Maranhão –com métodos que incluíram a pasta apreendida pela Polícia Federal no domingo, cheia de notas de R$ 20,00 destinadas a comprar votos.


 


A tonelagem do bulldozer com que atropela seus rivais – agora Alckmin, em 2002 Roseana Sarney – é uma das marcas do estilo Serra. Outra é o controle da mídia, buscando submeter todo veículo à condição de claque. É ele que preserva Serra de críticas a um governo medíocre, privatizante e socialmente cruel.


 


Ainda agora, o pais estarreceu-se com o desfecho do seqüestro da jovem Eloá Pimentel; a mídia atirou-se à pauta com avidez vulturina,
criticando tudo exceto o governador de São Paulo, responsável pela
segurança. Os policiais civis travam longa greve por salários e
dignidade; a PM os impede de chegar ao Palácio dos Bandeirantes com bombas de gás e efeito moral; os professores se indignam com a burla da Lei do Piso Salarial Profissional Nacional… Mas o escudo midiático protege Serra de tudo e ainda o vende como grande vencedor.


 


O escudo funciona também no conflito intratucano entre Serra e Aécio Neves. O governador de São Paulo reelegeu o prefeito da capital? Hosana! O governador de Minas elegeu o de Belo Horizonte? É, mas não teve a votação esperada…


 


A torcida serrista agora é que a crise nascida nos Estados Unidos cause o máximo de estragos no Brasil e em especial na popularidade do presidente Lula. Durante a última crise, em 2002, Serra disputou a
Presidência com Lula e perdeu em todos os estados exceto Alagoas. Em 2010 o tucano e seus cortesãos esperam que o quadro se inverta, e o mantra de que ''Lula não transfere seu prestígio'', repetido mil vezes, vire verdade.


 


Não se julga aqui o indivíduo José Serra, que um dia já foi presidente
da UNE, e um jovem economista exilado no Chile a acusar o crescimento perverso sob a ditadura de 1964. Avalia-se o papel político de quem se tornou o último trunfo na manga das classes dominantes, com destaque para a plutocracia paulista, visando recobrar o governo federal perdido.


 


Num país cindido por um abismo social e portanto político, esse é o lado dos inimigos do povo trabalhador, do progresso, da independência e da equidade. Foi o lado derrotado em 2002, 2006 e também em 2008, na maioria das cidades (4.151 a 1413), das grandes cidades (58 a 19) e das capitais (20 a seis). O frenesi com a proeza de Serra-Kassab em São Paulo (resultado que demanda análise específica) apenas revela o desconserto dessa gente com tal sucessão de derrotas, nunca vista na história deste país, e o temor de mais uma em 2010.