Lições da eleição

As vitórias da esquerda e centro-esquerda neste segundo turno em Fortaleza, Belém, Recife, Aracaju, além do vibrante e excelente desempenho na cidade de São Paulo e em Porto Alegre, sinalizam o início de uma revitalização da esquerda depois de duas duras derrotas, em 20016 nas eleições municipais e em 2018 nas eleições presidenciais.

Já a extrema-direita é a grande derrotada, graças à política de alianças amplas que, neste segundo turno, se firmaram. A direita e a centro-direita alargaram os resultados positivos e se apresentam como o campo político vitorioso dessas eleições. Sublinhe-se que parte razoável dessa direita se opõe ou tem contradições com o presidente Jair Bolsonaro.

A queda da avalição de Bolsonaro na maioria das capitais e em outras grandes cidades levou notórias candidaturas bolsonaristas a tentarem mitigar ou esconder o vínculo com o presidente da República. Não se trata, portanto, de que ele tenha optado por se abster neste segundo do turno. A verdade é outra.

Ele foi evitado, refugado pela maioria de seus candidatos. A derrota do bolsonarismo é talvez o fato mais relevante dessas eleições. E esse grande feito é uma vitória da política de frente ampla. Sem ela, para citar apena dois exemplos, Edmilson Rodrigues, do PSOL, dificilmente teria sido eleito em Belém; do mesmo modo Sarto, do PDT, em Fortaleza.

As eleições municipais marcam também que a esquerda começa a se refazer dos graves revezes de 2016 e 2020. As candidaturas de Guilherme Boulos em São Paulo e de Manuela d’Àvila em Porto Alegre obtiverem excelentes resultados eleitorais, embora não tenham sido eleitos.

Manuela e Boulos empolgaram grandes parcelas do povo destas duas capitais, além de ganhar a atenção e o apoio do eleitorado progressista do país. Essas duas lideranças, ao lado de Flávio Dino, representam a renovação que se opera na esquerda brasileira.

Fragmentada, na maioria das cidades, no primeiro turno, a esquerda conseguiu se convergir em várias disputas importantes na fase derradeira da disputa. Desse fato se espera que se tenha aberto caminhos para uma necessária convergência da esquerda que não se vê desde a derrota de 2018.

É necessário ressaltar, todavia, que a extrema-direita, embora tenha sido derrotada eleitoralmente, segue com o poder de aglutinação do governo federal e o bolsonarismo segue ativo e mobilizado.

Desse modo, o campo democrático, patriótico e popular, da qual faz parte a esquerda, deve tirar lições desse pleito, nos resultados positivos, mesmo que parciais mas preciosos.

Como disse a presidenta do PCdoB Luciana Santos, em mensagem pelas redes sociais: “Vamos tratar de construir pontes, viabilizar a frente ampla necessária para virarmos a página do projeto bolsonarista de ódio, intolerância, desrespeito à vida e à soberania do país, de ataques aos direitos” e, acrescenta, de negação da ciência e ataque à cultura.

O eleitorado das cidades lançaram as sementes, criaram bases, para que o Brasil venha a se livrar do pesadelo que é Jair Bolsonaro.