Lula e os paradoxos do favoritismo

Lula foi eleito na quarta tentativa. A campanha de 2002 foi uma disputa equilibrada. Nas demais campanhas ele comeu poeira na corrida ao Palácio do Planalto. Desta feita está às voltas com um problema que todo candidato deseja ter: administrar o favoritismo. Sucessivas pesquisas de intenção de voto apontam sua reeleição já no primeiro turno. Se tiver, segundo turno, tais pesquisas, com a terrível e realista ressalva, “se as eleições fossem hoje”, também atestam que ele ganha.

 

Em si o favoritismo é um “mal benévolo”. Contudo, se o “favorito” tomado pela euforia passa a cuidar da festa da vitória antes de se ocupar da batalha, o que era benévolo torna-se o seu oposto. A história registra uma lista de derrotados, outrora, “favoritos”.

 

Lula que foi bom candidato “comendo” poeira é chamado a demonstrar que também é bom encontrando-se em situação vantajosa. É um líder calejado. Vem de quatro campanhas presidenciais. Três derrotas e uma vitória. E sabe que nesse tipo de confronto político ao contrário do futebol não há empate.

 

No momento decisivo das coligações partidárias, a serem definidas, pelas convenções, informações públicas dão conta de que ele, pessoalmente, busca remover os obstáculos que dificultam a formação de uma aliança política ampla liderada pela esquerda. Parece saber que isso lhe é imprescindível à vitória e à governabilidade.

 

Nesse sentido, é imperativo o diálogo de Lula com seus aliados e, sobretudo, com o seu partido, o PT.  Uma coligação deve ter como princípio a reciprocidade de apoios e uma resultante que seja o fortalecimento de todas as legendas que da coligação ou da aliança façam parte. Se isso não vigora, se uma legenda busca monopolizar o fortalecimento para si, é claro que o “edifício” da coligação não se ergue.

 

Na reta final das convenções é auspicioso o fato de a candidatura Lula estar prestes a receber o apoio da maioria das lideranças e seções estaduais do PMDB e, também, de lideranças de outras legendas, do espectro do centro do arco partidário brasileiro. Enquanto que os palanques estaduais de Geraldo Alckmin não se expandem e alguns até são “invadidos” pela liderança de Lula.

 

Contudo, o que preocupa é o núcleo de esquerda dessa frente política que corretamente se amplia. O PCdoB e o PSB, com razão,  através de seus presidentes e outras lideranças, reclamam e protestam quanto à falta de reciprocidade do PT no cômputo geral das coligações estaduais. O PCdoB, por exemplo, apóia candidatos majoritários do Partido dos Trabalhadores de norte a sul, de leste a oeste, e reclama uma reciprocidade petista em apenas três situações.

 

O que o povo brasileiro espera nesta hora de decisões é que a esquerda brasileira e no âmbito dela, em especial, o PT, tenha aprendido com a experiência recente que subestimar o poder de fogo da direita  neoliberal é “entregar o ouro ao bandido”.  Ou em tempos de Copa: “é entregar a taça de graça ao adversário”.