Lula fala em acelerar crescimento e Copom mete o pé no freio

Segunda-feira, dia 22, o presidente Lula, depois de grande expectativa, lança o Plano de Acelaração do Crescimento (PAC). Na contra-mão das diretrizes do PAC, na quarta-feira, dia 24, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduz a queda da Selic, taxa básica de juros e a diminui em apenas 0,25%. Nos últimos cinco meses, a redução havia sido de 0,5%.


 


Do fato emergem duas perguntas: quem foi eleito presidente da República com quase 60 milhões de votos, Luiz Inácio Lula da Silva ou Henrique Meirelles, um cidadão sem-votos? Qual diretriz vai reger o reger o governo: o compromisso assumido pelo presidente,-''desenvolvimento acelerado, distribuição de renda, educação de qualidade-'' ou os interesses do capital financeiro, especulativo que mandam e desmandam no Banco Central?


 


Uma parte do governo (Copom) ''apartada'' do governo, senão contra ele,  disse Paulo Skaf, presidente, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp):
''O recuo da taxa básica de juros para 13% é insuficiente para referendar a confiança dos setores produtivos no PAC e no discurso de crescimento pronunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nem parece que o Copom integra o mesmo governo que, há apenas dois dias, anunciou um grande e abrangente programa voltado à expansão do PIB. É paradoxal.''


 


Noutro plano, a Central Única dos Trabalhadores, também, emitiu vigoroso protesto, assinado pelo seu presidente Artur Henrique: ''Decepcionante. Dezenas de notas oficiais emitidas após as decisões do Copom jamais sensibilizaram os integrantes desse restrito comitê, surdo aos apelos dos trabalhadores e do setor produtivo por uma queda acelerada da taxa básica de juros. Nem mesmo o anúncio do PAC, sinalização política do governo federal com vistas ao crescimento, retirou o manto da mesmice e da falta de coragem que obscurece a mente desses nobres cavalheiros. Chega de notas. Queremos mudanças. Os trabalhadores exigem participar ativamente das decisões em torno da política econômica. Pela ampliação e democratização do Conselho Monetário Nacional, já.''


 


 


O Copom está nu, isto é, os interesses e ideais que o governam estão nítidos. À margem das leis do país, na prática, age como se fora independente do governo e atua como um ventríloquo do mercado. Não cola mais o discurso chantagista de que a inflação bate à porta. Indicadores econômicos atestam que ela sob controle. O verdadeiro índice que motiva e dita as decisões do Copom é a margem astronômica de ganhos do capital financeiro. O Brasil continua a ocupar o topo da escada mundial de juros reais: 8,6%, o segundo colocado, a Turquia, 7,1%.


 


Todavia, para além de arrazoados econômicos e técnicos, emerge uma questão política importante. Com toda pompa e liturgia, o presidente da República, ladeado de seus principais ministros e outras autoridades, anunciam à Nação um pacote de medidas para acelerar o crescimento. Ato contínuo uma parte do governo adota uma decisão, sem base técnica, que prejudica o PAC. Emerge a pergunta: quem governa o país?


 


Inegavelmente, a decisão do Copom questiona a própria autoridade do presidente da República. Em face disso, cabe a presidente Lula responder com decisões e medidas que demonstrem de modo cabal ser ele o chefe de seu governo.