Lula no Oriente Médio: o vírus da paz

No vazio de lideranças políticas existente no chamado mundo ocidental, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva vai ocupando […]

No vazio de lideranças políticas existente no chamado mundo ocidental, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva vai ocupando um espaço que o Brasil nunca teve: o de mediador em graves e históricos conflitos que, enraizados nas disputas entre as potências imperialistas, cobram um alto preço de sofrimento, miséria e dor para os povos.

Lula está no Oriente Médio. Começou a viagem por Israel, onde foi recebido pelo presidente Shimon Peres, discursou no Knesset (o parlamento israelense) e se encontrou com o primeiro ministro Benjamin Netanyahu. Diante deles, defendeu a criação do Estado Palestino, recomendou aos países que sigam o exemplo do Brasil banindo as armas nucleares (Israel tem um arsenal “clandestino” com algo entre 80 a 200 bombas atômicas) e se confessou portador do vírus da paz que, disse, “acho que está comigo desde que estava no útero da minha mãe”.

Lula está determinado a jogar o peso diplomático que o Brasil adquiriu nos últimos anos para ajudar a encontrar o caminho da paz entre palestinos e israelenses. A etapa seguinte de sua viagem (que começa amanhã, dia 16) será a Palestina – o presidente brasileiro vai dormir em Belém – uma decisão que destoa do comportamento de outros governantes internacionais que visitaram a região ultimamente – e em seguida vai visitar Ramalá, no coração do território palestino ocupado por Israel. O que está em jogo naquele conflito, disse na presença de Shimon Peres, “não é só o futuro da paz na região, mas a estabilidade no mundo”.

Na visita ao presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, vai manifestar o apreço dos brasileiros pela luta contra a ocupação israelense – em Ramalá, além de visitar uma escola financiada pelo Brasil, vai colocar flores no túmulo de Yasser Arafat, o histórico dirigente palestino morto em 2004. Em contrapartida, Lula manifestou a intenção de não ir ao túmulo do fundador do sionismo, Theodor Herzl, em Jerusalém, como pretendia o governo de Israel – um simbolismo veemente que não precisa de palavras para manifestar seu significado.

A visita de Lula ocorre num momento delicado, em que o governo de Israel multiplica seus atentados contra os palestinos e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirma a decisão de manter as construções de novas casas para israelenses na parte palestina de Jerusalém, ocupada por Israel. Decisão que o governo dos EUA considerou “um insulto”, como disse a secretária de Estado Hillary Clinton, numa condenação que ficou nas palavras, neste que é considerado o pior momento nas relações entre Israel / EUA nos últimos 35 anos, como reconheceu o próprio embaixador israelense em Washington, Michael Oren.

Lula quer estreitar relações econômicas com israelenses, palestinos e jordanianos, tendo levado uma comitiva de 200 empresários para incentivar o comércio e aprimorar uma relação que, a partir de abril, será facilitada pela entrada em vigor do acordo de livre comércio entre o Mercosul e Israel.

Mas a importância maior de sua visita é política. Em Israel, Lula discutiu a participação brasileira no processo de paz, uma pretensão bem vista pelo presidente Shimon Peres, apesar das restrições existentes devido ao diálogo do presidente brasileiro com o governo iraniano, que os israelenses relacionam entre seus principais inimigos. Entretanto, disse o chanceler brasileiro Celso Amorim, considerou que a capacidade brasileira “de fazer amigos com todos pode ser muito útil nessas situações”.

A direita brasileira e a oposição neoliberal, com seu reconhecido “complexo de vira latas”, condenam a peregrinação de Lula pelo Oriente Médio pois ela significa um importante passo na afirmação de uma diplomacia autônoma e soberana, que não aceita subordinar-se aos interesses e às imposições do governo de Washington. Ao contrário, o Brasil – com Lula e Celso Amorim, afirma seu protagonismo no cenário internacional. É o que se espera de um país cioso de sua capacidade de influir nos destinos do mundo. E difundindo, como disse Lula, o “vírus da paz”.