Mais uma trágica marca da conduta criminosa de Bolsonaro

O Brasil ultrapassou a trágica marca de 90 mil mortos com a Covid-19. Mais de 2,5 milhões de pessoas estão infectadas. Desde 27 de abril, pela 14º semana, segundo o Imperial College do Reino Unido – um dos principais do mundo –, o país tem taxa de contágio acima de 1, o que significa que a transmissão está se acelerando. Na semana que começou no domingo (26), o índice — também chamado de R (t) — subiu de 1,01 para 1,08.

Isso quer dizer que cada 100 infectados por coronavírus contaminam outros 108, que por sua vez infectam mais 116,6 e assim sucessivamente, ampliando o alcance da doença. Ou seja: a pandemia segue se espalhando sem controle.

Enquanto país contabiliza a tragédia, o presidente da República, Jair Bolsonaro, desfila sua irresponsabilidade, nesta quinta-feira (30) na cidade de Campo Alegre de Lourdes, no norte do estado da Bahia, onde esteve para fazer a inauguração da segunda etapa do Sistema Integrado de Abastecimento de Água do município. Como sempre, descumprindo regras básicas de prevenção, como distanciamento social e uso correto de máscara.

Não é demais reiterar que a dimensão dessa tragédia se deve, em grande medida, à conduta criminosa do presidente. Desde o início da pandemia ele negou a gravidade da doença, faz campanha sistemática contra as recomendações das autoridades sanitárias, não traçou uma estratégia de combate ao vírus e atrasou deliberadamente todas as iniciativas do Congresso Nacional para criar meios de socorro econômico.

Para exemplificar esse descaso, basta dizer que, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), o Ministério da Saúde gastou apenas 29% do dinheiro que recebeu para combater a pandemia. Só pelo recurso não utilizado o governo Bolsonaro pode ser responsabilizado por uma grande quantidade se mortes, que poderiam ter sido evitadas.

Sem contar o desleixo com as medidas necessárias para equipar melhor o Sistema Único de Saúde (SUS), para prover recursos aos que perderam fontes de renda, para auxiliar a economia nacional e para socorrer estados e municípios. Com isso, o desemprego disparou e a economia não dá o menor sinal de recuperação. E segue a marcha da morte, com o país já avistando o horizonte de 100 mil vidas perdidas pela pandemia.

Diante dessa realidade, seria urgente medidas para reforçar as práticas sanitárias de prevenção ao contágio, controle dos contaminados e ações para assegurar as condições necessárias ao tratamento adequado. Adotar, enfim, os protocolos exitosos de outros países e as recomendações de pesquisadores e autoridades sanitárias. As iniciativas de suprimir a transmissão do vírus estão atestadas em inúmeros exemplos, dentro e fora do Brasil, especialmente nos países asiáticos.

Como disse coordenador voluntário do Comitê Científico de combate ao coronavírus do Consórcio Nordeste, Miguel Nicolelis, é necessário “quebrar a transmissão do coronavírus indo para o ataque, nas casas, nos bairros e nos locais de trabalho, onde estão os infectados”. Da mesma forma, Eduardo Costa, epidemiologista e professor da Fiocruz, membro do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), recomenda medidas indispensáveis para romper a cadeia de transmissão do vírus. Essas medidas, em síntese, se constituem na busca ativa de novos casos, rastreamento dos seus contactantes e isolamento dos casos positivos.

É claro que, além dessas medidas, é preciso reforçar as ações preventivas, como o uso de máscara e a higienização constante. Simultaneamente, impõe-se medidas referentes à economia, como a garantia de pagamento do auxílio-emergencial de R$ 600 pelo menos até dezembro e o auxílio direto às micro, pequenas e médias empresas para diminuir a quebradeira e proteger o emprego.

Mas tudo isso torna-se peça de ficção com Bolsonaro na Presidência da República. Cabe às forças democráticas, ao Congresso Nacional, aos demais Poderes da República, aos governadores e prefeitos e às organizações representativas da sociedade aumentar os esforços para controlar a pandemia e salvar vidas e para que o país, num horizonte próximo, possa vencer a pandemia e superar a crise.