O alarmante encontro mundial sobre o clima

Foi lançado em Paris, no último final de semana, o relatório do Painel sobre Mudança de Clima (IPCC), órgão criado pela ONU, que causou grande impacto nos meios científicos do mundo inteiro a partir de dados concretos apontados por cerca de 2.500 especialistas no assunto.



O documento constata que não há mais dúvidas de que a queima de combustíveis fósseis — entre outras atividades ligadas à produção de energia e de mercadorias — são as maiores responsáveis pelo fenômeno do aquecimento global. Um estudo publicado por Nicholas Stern, a pedido do governo britânico, prevê que “o PIB global deixará de aumentar em até 20% ao ano nos próximos dois séculos caso nada seja feito para impedir que a temperatura da atmosfera suba mais 2º C”.



“A temática do desenvolvimento aliado à preservação ambiental emerge como uma das principais questões a serem enfrentadas neste século XXI”, constatava o texto de capa da revista Princípios, dedicado ao problema ambiental do planeta. “Agredido por ações e métodos destrutivos, derivados de um sistema cuja essência é o lucro máximo, nosso belo planeta apresenta “ferimentos” por toda parte. O capitalismo contemporâneo fere a Terra não apenas com suas velhas guerras de pilhagem e com a miséria e a fome que espalha. A natureza, preciosa fonte de riquezas, é mutilada ano após ano por uma lógica de produção predatória cujos agentes políticos e econômicos pouco se importam com os efeitos danosos de sua prática”.



O Protocolo de Kyoto previa reduzir 5,2% da emissão de gases que provocam o aquecimento da Terra em decorrência do efeito estufa pelos países mais industrializados até 2012. Com a recusa dos EUA em assinar tal protocolo, como o maior poluidor do mundo, aquela perspectiva choca-se com a principal diretriz da Convenção das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, acordada na Cúpula da Terra realizada no Rio de Janeiro em 1992. Neste conclave concluiu-se que a luta contra o aquecimento global só pode ter eficácia se este for enfrentado pelo conjunto dos países. Evidentemente, também na questão ambiental está presente o confronto objetivo que há entre os países centrais, imperialistas, e os países pobres e em desenvolvimento. E nesse tema, o choque vem à tona no exame do grau de responsabilidade dos países conforme seu histórico.



Da Cúpula da Terra Rio 92, passando pela Conferência das Partes, em 97, em Kyoto (Japão), à Conferência do Clima, ocorrida em 2005, em Montreal, Canadá, e agora no painel sobre mudança de clima promovido pela ONU, se verifica que os termos dos acordos firmados em defesa da preservação ambiental e do desenvolvimento sustentado são “bombardeados” pelas grandes potências – em particular os Estados Unidos. Os países em desenvolvimento, sobretudo os que têm à sua frente governos progressistas, lutam numa correlação de forças desigual contra o irracional modelo que está levando à mutilação o nosso planeta.



Dessa maneira, a bandeira da preservação ambiental e do desenvolvimento sustentado deve com destaque estar presente do programa do movimento transformador de nosso tempo. Em particular no Brasil – país com fabulosos recursos naturais, também alvo de exploração destrutiva e predatória – as forças progressistas precisam conceber e implementar um modelo de desenvolvimento que além de distribuir renda preserve o meio ambiente.