O BOPE é um inseticida social?

A comemoração, pelo comandante da ação policial na Vila Cruzeiro, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, no dia 15, pela morte de suspeitos de pertencerem ao tráfico, é reveladora da mentalidade autoritária de alguns policiais.


 


Naquela ação, a Vila Cruzeiro foi ocupada por 100 policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais), e deixou um saldo de nove mortos e sete feridos; 14 foram presos.


 


A luta contra o crime organizado é emergencial, particularmente em lugares onde o vácuo deixado pela falta de ação do Estado (sobretudo ação social) deixa um espaço que é ocupado por bandidos que passam a exercer o poder ''de fato'' em várias comunidades, com graves atentados contra a ordem pública e também contra a segurança e o bem estar dos cidadãos.


 


Assim, não é a ação repressiva da polícia que merece reparo, mas sim métodos violentos condenáveis, que ferem noções mínimas de direitos humanos e, comumente, afrontam a própria lei que cabe à polícia defender.


 


São métodos muitas vezes ilegais que encontram suporte em parte da hierarquia policial e forte apoio em setores mais conservadores e atrasados da sociedade. A declaração do comandante da operação do dia 15, coronel Marcus Jardim, é um exemplo disso. ''A PM'', disse ele, ''é o melhor inseticida contra a dengue. Conhece aquele produto, SBP? Tem o SBPM. Não fica um mosquito em pé''. E completou: ''É o melhor inseticida social''.


 


Quem assistiu, há alguns anos, o documentário do sueco Peter Cohen ''A arquitetura da Destruição'' (de 1992, e disponível em vídeo) poderá lembrar como as antoridades nazistas, na década de 1930, usavam linguagem semelhante para referir-se ao massacre de judeus, comunistas e oposicionistas. Eles são como ratos ou piolhos, diziam, e contra eles é preciso usar os raticidas ou inseticidas ''sociais'' representados pela polícia e pelos grupos paramilitares nazistas.


 


Com sua frase infeliz, o coronel da PM do Rio de Janeiro iguala-se aos nazistas, ao comparar a polícia a um ''inseticida social'', tese que legitima tanto a violência traduzida na tortura e no assassinato de suspeitos, como a impunidade de agentes da lei que abusam do poder e da força.