O isolamento de Bolsonaro

Bolsonaro

O presidente da República, Jair Bolsonaro, é uma figura cada vez mais isolada. O Brasil começa a se unir contra ele, a começar pelos governadores. Até aliados mais afinados ideologicamente com ele, como Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Carlos Moisés da Silva (PSL-SC), manifestam contrariedade com suas atitudes irresponsáveis.

Muitos economistas neoliberais que falavam no mesmo tom do presidente formam outro polo que se desgarra politicamente do governo e passam a defender ações efetivas do Estado para enfrentar o caos na economia provocado pela Covid-19 – embora outros tantos deles permaneçam na mesma posição, preferindo contar mortos a número de desempregados.

Há ainda certa dissonância com os militares, como os sinais emitidos pelo vice-presidente general Hamilton Mourão, mais um dado que atesta o isolamento de Bolsonaro. E, principalmente, os indicadores das pesquisas de opinião pública, revelando certo abalo na popularidade do presidente, especialmente nas chamadas classes médias.

Bolsonaro nunca foi adepto da ciência e da pesquisa científica, mas com suas atitudes afrontosas se isola também da comunidade médica e dos cientistas. A tendência é de que esse isolamento se intensifique, à medida em que suas ações apontem para um rumo totalmente diverso do recomendado pelas autoridades de saúde em âmbito mundial.

Com isso, cresce também o isolamento político. No caso dos governadores, já existe um agravamento da crise federativa. À medida em que o presidente ataca os governadores, eles ganham autoridade e popularidade. E assim vai se formando antagonismos e acirrando as contradições institucionais, gerando, consequentemente, impasses políticos.

Forma-se, rapidamente, um arco amplo de unidade que, na prática, emerge para dar resposta à irresponsabilidade e à incompetência de Bolsonaro. Os pronunciamentos de importantes representantes do povo no Congresso Nacional – e mesmo de setores da mídia – dão vigor às forças democráticas e à luta contra o autoritarismo do presidente.

O pano de fundo disso tudo é a falácia de contrapor a economia à necessidade de salvar vidas, priorizando a primeira. Nesse momento crítico, a vida e a saúde das pessoas precisam estar em primeiro plano. A economia deve estar em função delas e submetida a um planejamento do Estado, de modo a atender às urgências surgidas com a Covid-19.