O PIB de 2009 desmentiu os plantonistas da catástrofe

A divulgação do desempenho da economia brasileira em 2009 – com um discreto recuo do PIB, de 0,2% – desmentiu os catastrofistas de plantão cujas previsões negativistas se multiplicaram no início do ano passado e previam um cenário assombroso para o Brasil. Houve inclusive quem prontasse uma queda de 4,5%, como a corretora de Nova York Morgan Stanley, de brilho já embaçado pelas trapalhadas financeiras que agravaram a crise iniciada em 2008.

Após a divulgação dos resultados, mesmo comentaristas do campo oposicionista reconheceram que o desempenho brasileiro não foi ruim, embora se deva reconhecer que 2009 é mais uma data que se inscreve na lista dos anos perdidos para o desenvolvimento nacional. O jornal O Estado de S. Paulo amenizou, em seu noticiário, o desempenho sofrível dizendo que ele "representa mais uma estagnação do que uma queda". E o comentarista econômico Celso Ming, no mesmo jornal, afirma que "não foi um mal resultado".

As previsões sobre o efeito da crise no Brasil combinaram avaliações econômicas com apostas políticas. A crise mais devastadora dos últimos 80 anos despertou a esperança oposicionista de um desastre que destruiria o governo Lula, cimentando o caminho para a volta dos tucanos ao Palácio do Planalto.

Não foi isso o que aconteceu, e a explicação pode ser encontrada na comparação entre a forma com que os governos de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva enfrentaram as adversidades externas da economia.

Sob FHC, o Brasil quebrou em todas as crises. Teve desaceleração do PIB nas crises asiáticas e russa (1996 e 1997), afundou na crise cambial de 1999, caiu outra vez com o apagão de 2001 e com o medo da eleição de Lula em 2002. O país voltou a crescer a partir do terceiro trimestre de 2003 (no governo Lula) quando teve início a expansão contínua que agora é retomada depois do engasgo do ano passado.

A resposta brasileira à crise de 1998-1999 é particularmente esclarecedora – naqueles anos o Brasil patinou, com crescimento zero em 1998 e apenas 0,3% em 1999. Foram anos de desemprego e muitas dificuldades para os trabalhadores.

Comparada a ela, a crise de 2008-2009 foi um soluço: durou um semestre (entre o final de 2008 e o início de 2009) e já na segunda metade de 2009 o país retomava um crescimento discreto mas constante que chegou à casa de 2% no final do ano significando, segundo o ministro da Fazenda Guido Mantega, um crescimento anualizado de 8,4%. Nada indica que este número vai se sustentar mas a previsão de expansão do PIB em 2010 é vistosa e gira em torno de 6%.

Como explicar a disparidade entre os desempenhos sob FHC e sob Lula? Uma questão central é a diferença na concepção do papel do Estado na economia que, sob Lula, foi posto sem vacilação como um para-choque da crise. Dois aspectos chamam a atenção na ação do Estado sob Lula: a manutenção dos investimentos em obras públicas, financiamento para a produção e, principalmente, a manutenção do crescimento do consumo das famílias que, em 2009, aumentou 4,1% graças à valorização do salário mínimo e ao Bolsa Família.

Isto é exatamente o contrário do que foi feito sob FHC. O neoliberalismo abomina a valorização do trabalho e aponta o arrocho dos salários e a supressão de direitos sociais como receitas de desenvolvimento, o que é falso. Na atual crise, estes dois fatores (intervenção do Estado e ampliação do consumo) foram fundamentais para fortalecer o mercado interno e transformá-lo na locomotiva que manteve a economia funcionando, apesar do terremoto econômico que abalava o mundo.

É outra comparação desfavorável para FHC, em cujo governo a queda na renda dos trabalhadores se refletiu negativamente na capacidade de consumo da sociedade e teve reflexos até meados de 2003 (primeiro ano do governo Lula).

Com Lula isso começou a mudar e já no segundo semestre de 2003, a renda (e a massa salarial) voltou a crescer, puxando o consumo das famílias, num ritmo lento mas constante que não se deteve nem mesmo perante a crise econômica mundial.

A valorização do salário mínimo, o Bolsa Família e a retomada do crescimento da economia (que trouxe com ela a retomada do emprego) foram os motores desse fortalecimento do mercado interno que funcionou como um colchão contra a crise.

O desempenho da economia, em 2009, esteve mais para marolinha do que para o tsunami desejado pelos tucanos e pelos neoliberais, apesar do forte impacto da crise nos setores primário (agropecuária) e secundário (indústria) da economia. É mais um exemplo da diferença de programas entre as duas forças políticas principais que se enfrentam no cenário político nacional e que os brasileiros irão julgar na eleição de outubro.

De um lado, o velho programa do atraso e da subserviência do país ao grande capital internacional e às potências estrangeiras. No passado, esse programa deu no desastre descrito acima.

Do outro lado, o povo e as forças progressistas e avançadas que defendem o empenho do governo e do Estado para fomentar o desenvolvimento da economia e o bem estar dos brasileiros.

A galhardia com que o Brasil enfrentou a crise mundial fundamenta a esperança de um Brasil melhor para todos. Os brasileiros terão dúvidas em outubro, ao escolher o sucessor de Lula?