Onda conservadora ameaça avanços democráticos e sociais

A vitória de Dilma Rousseff em novembro de 2014 foi a vitória de uma agenda política que propugnava por mais direitos e mais democracia.

Diversos fatores obstaram até agora esta agenda. Uma insistente ofensiva golpista e antidemocrática do consórcio oposicionista formado pelo grande capital, mídia empresarial e partidos de direita, além de erros de condução política do próprio governo, estão entre estes elementos desestabilizadores.

No entanto, ressalta-se neste cenário o caráter majoritariamente conservador e até mesmo reacionário de boa parte do Congresso saído das eleições de outubro último.

Movendo-se sempre a serviço de uma pauta que retira direitos de um lado e restringe a democracia por outro, a atual maioria da Câmara dos Deputados, comandada pelo deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), faz parecer que a direita, derrotada nas urnas, é quem atualmente dá as cartas.
Assim, ao contrário de aperfeiçoar o atual modelo de disputa eleitoral, que transforma uma grande parte dos parlamentares em meros despachantes de luxo dos financiadores de suas eleições, a Câmara dá mostras de querer tornar constitucional a principal causa da corrupção: o financiamento empresarial das campanhas.

Ao contrário de avançar no aprofundamento das conquistas sociais, a Câmara consagra a retirada de direitos dos trabalhadores.

Se existe um aspecto positivo nesta lamentável onda conservadora que engolfa o legislativo nacional, é que as coisas tendem a ficar mais claras para a população, ajudando no necessário enfrentamento com as forças oposicionistas.

Quem quer o financiamento privado? Quem votou pela terceirização? Os mesmos. Além de Eduardo Cunha e seus liderados, o PSDB, o DEM, o PPS, SD, entre outros, todos com o apoio da mídia venal, que fala em honestidade e estimula os verdadeiros corruptos, que arrota a defesa de uma falsa modernidade, mas anda de braços dados com o atraso e o obscurantismo, que finge ser amiga do povo enquanto pelas costas incentiva o aumento cruel da exploração.

Quem se opõe a estes atentados contra a democracia e os direitos sociais? Majoritariamente, a esquerda, representada pelo PCdoB, PT e PSOL, além de democratas e patriotas de outras siglas.
Nestes momentos de embates definidores de campos, cada contendor deixa bem à vista os interesses pelos quais luta.

A par de uma necessária recomposição institucional, que permita à presidenta Dilma um ambiente mais estável para exercer o mandato que a vontade das urnas lhe outorgou – e nesse sentido o fato de o vice-presidente da República, Michel Temer, passar a acumular as funções que eram da secretaria de articulação é uma boa sinalização – devemos intensificar o debate político com destemor e habilidade. É preciso desmascarar junto ao povo os seus verdadeiros inimigos. Falsas vestais que, com as mãos sujas da corrupção ousam tentar dar aulas de ética, devem ser despejadas de seus pedestais de papel.

Persistir na defesa da democracia, e, portanto, do mandato da presidenta Dilma, defender os direitos conquistados e barrar a onda conservadora no Congresso são tarefas fundamentais para superar a crise, dar impulso à contraofensiva e prosseguir na consecução das reformas estruturais indispensáveis a um futuro de soberania e justiça social.