Os auxílios dos EUA e da UE e a paralisia do governo Bolsonaro

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes

A aprovação de um pacote de US$ 900 bilhões contra os efeitos da pandemia nos Estados Unidos e as medidas de auxílio anunciadas pelo Banco Central Europeu contrastam com a postura inflexível do governo Bolsonaro. No Estados Unidos, o segundo maior pacote de estímulo econômico da história inclui auxílio à parcela da população mais vulnerável e a pequenos empresários, e um fundo para a distribuição de vacinas contra a Covid-19.

Na Europa, as medidas de auxílio econômico têm o objetivo de impulsionar o bloco da União Europeia por tempo suficiente para que a vacina contra o coronavírus seja distribuída e a economia comece a melhorar. O pacote prevê que os custos de empréstimo permanecerão perto de zero por anos para que governos e empresas possam sair de sua maior recessão na história recente.

Em ambos os casos, a vacina como meta para o controle da pandemia e consequente retomada da economia é precedida de ações do Estado. No Brasil, o ministro da Economia, Paulo Guedes, avalia que somente a vacinação pode ajudar numa retomada mais vigorosa do crescimento. Em balanço das ações do Ministério da Economia em 2020, Guedes afirmou que a vacinação é o que Brasil precisa “para que a asa da saúde bata ao mesmo tem que a asa da recuperação econômica”.

A fórmula do governo brasileiro, além de contrastar com as medidas dos Estados Unidos e da União Europeia, ignora o papel do auxílio emergencial e ajudas às empresas mais vulneráveis e aos estados municípios como base da dinâmica econômica. As palavras de Guedes são mais uma de suas conhecidas proclamações vazias, sem nenhuma correspondência com a realidade, mera formulação propagandística no lugar de ações no sentido de restabelecer uma medida crucial tanto para socorrer as pessoas sem fontes de renda quanto para a sustentabilidade das atividades econômicas.

Não há, igualmente, garantias de uma relação automática de vacinação com recuperação econômica. Entre uma e outra deve haver muito mais coisas para que as “asas” citadas por Guedes possam bater sincronizadas. Não há sequer uma política de vacinação em massa, com a destinação de recursos para essa finalidade e uma ação planejada para que o país possa chegar o quanto antes a um platô de estabilização da pandemia capaz de assegurar a retomada segura das atividades econômicas.

Na verdade, o Brasil sob o governo Bolsonaro segue sem impulso tanto na asa da saúde quanto na da economia. Na primeira, o Estado se omite, além da vacinação, no planejamento do controle da propagação da pandemia – testagem, rastreamento e tratamento – e na garantia de renda para reduzir ao máximo a exposição da população ao vírus, sobretudo com o auxílio emergencial. Na outra asa, a economia se paralisa diante da inação do governo.

Guedes voltou a insistir na sua panaceia privatista e “reformista”, pregando a retomada imediata das privatizações de quatro companhias – a Eletrobras, os Correios, o Porto de Santos e a PPSA (empresa que administra os contratos do pré-sal). “São quatro privatizações óbvias, conversando com nossos eixos políticos meses atrás”, declarou. Com elas, diz o ministro, acaba a “corrupção” e o país pode atrair investimentos privados. Como se vê, o governo Bolsonaro, além de autoritário e irresponsável, é mercador de ilusões.